Defeitos podem virar destaques da decoração

Para projetar reformas sem interferir na estrutura, arquitetos preservam colunas e utilizam alternativas para que dialoguem com o resto do ambiente

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postado em 14/04/2013 08:00 / atualizado em 14/04/2013 09:53 Thiago Ventura /Portal Uai
"Procurei valorizar o que a arquitetura anterior me ofereceu, realçando seus pontos importantes com um bom mobiliário e uma ótima iluminação" - Ana Bahia, arquiteta. Ela utilizou das colunas de casarão da década 40 em projeto de loja de cadeiras

A cena é comum durante a reforma: no meio da sala ou outro ambiente, lá está uma coluna de sustentação, por vezes em um ponto nobre do espaço e impossível de ser suprimida sem abalar a estrutura do imóvel. Mas, o que era para ser motivo de desespero aos olhos de clientes leigos em arquitetura ou decoração, torna-se inspiração para projetos bem sucedidos de design.

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Esses “defeitos”, como vigas aparentes, pilares ou ressaltos, podem ser camuflados com gesso ou outras soluções, no entanto é cada vez mais recorrente o caminho inverso. Tornam-se elementos de destaque na decoração dos mais variados espaços. E com bons resultados tanto em ambientes sóbrios ou descolados.

O recurso foi utilizado pela arquiteta Ana Bahia em um projeto para loja especializada em cadeiras no Funcionários, Região Centro Sul de Belo Horizonte. O estabelecimento foi instalado em uma antiga casa da década de 40. Durante a reforma, colunas com acabamento superior arrendondado foram preservadas e ainda receberam iluminação para realçar suas formas. Na entrada do imóvel, foi inserida uma vitrine dos produtos; uma caixa de vidro que evitou alterar as linhas da varanda.

Decoração de Marieta Lemos em Nova Lima: painel de madeira contrasta com branco das colunas - Eduardo Almeida/RA Studio Decoração de Marieta Lemos em Nova Lima: painel de madeira contrasta com branco das colunas


“Procurei valorizar o que a arquitetura anterior me ofereceu, valorizando e realçando seus pontos importantes com um bom mobiliário e uma ótima iluminação”, ressalta Ana. Segundo ela, os profissionais têm que assumir a existência desses detalhes e torná-los parte do projeto. “O ideal é que fiquem harmônicos com o resto do ambiente”, completa.

A iluminação foi toda planejada de forma a não esconder os pilares e estruturas das vigas. Em outro ponto do imóvel, onde uma parede havia sido demolida, uma estrutura em cobogós refez a linha para exibir mais produtos. “Nada de camuflar. Você pode inserir elementos novos sem perder a originalidade do espaço”, conclui. Completando o projeto, o piso original em tacos de madeira foi mantido. Além disso, o uso de textura concreto no lugar de massa corrida nas paredes conservou a textura na parede.

A designer de interiores Lídia Sucasas também concorda com a ideia de se utilizar elementos estruturais na decoração dos projetos. No entanto, o recurso deve ser utilizado de forma a atender o gosto do usuário. “Depende muito da criatividade do profissional e da aceitação do cliente. Além disso, é necessária a adequação desses elementos arquitetônicos de sustentação conforme o projeto, atendendo não só  a viabilidade e  funcionalidade, mas principalmente a estética”, analisa.

Ambiente projetado por Ana Paula Massote Rohlfs:  vigas recobertas com madeira conferem aconchego à sala de estar - Jomar Bragança/Divulgação Ambiente projetado por Ana Paula Massote Rohlfs: vigas recobertas com madeira conferem aconchego à sala de estar


Criatividade é mesmo palavra chave para se aproveitar bem o espaço, inclusive no caso de vigas ou colunas. Esses elementos podem ser revestidos com materiais de acabamento que os valorizem, com cores contrastantes ou harmônicas ao resto do ambiente. Além do exemplo dos nichos transformados em show room, os “defeitos” podem abrigar  quadros,esculturas  e outros objetos. “Algo que dê um toque especial ao ambiente”, completa Lídia.

O ressalto gerado por uma janela suprimida é inclusive uma oportunidade para aplicar outra dica. No ambiente “Escada Secreta”, da mostra Morar Mais 2012,  a designer aproveitou o nicho com vão de 20 cm para fazer um espaço para coleções. “Foi feito um fechamento de vidro com três divisões que separavam os objetos. Uma boa alternativa”, conta.

Colunas no meio

Uma alternativa bastante usual é unificar ambientes. Foi a solução feita pela designer de interiores Marieta Lemos na adaptação de uma cobertura na Vila da Serra, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A profissional uniu a varanda com a sala de jantar, ampliando o ambiente. Sobraram as colunas, que acabaram sendo contempladas no resultado final do projeto.

“Rebaixei o teto da varanda e da da sala com gesso, deixando as vigas. Optei por aplicar um acabamento em madeira em uma das laterais, para aquecer o ambiente. O contraste do branco das paredes, colunas e piso de porcelanato gerou um bom contraste com o fundo, com bom resultado”, descreve.

Ilusão de ótica: Lídia Sucasas cobriu ressalto e parede com espelhos, ampliando ambiente com detalhe curioso - Lídia Sucasas /Divulgação Ilusão de ótica: Lídia Sucasas cobriu ressalto e parede com espelhos, ampliando ambiente com detalhe curioso


A ideia é mesmo utilizar os obstáculos como aliados. Isso pode, inclusive reduzir os custos de decoração. Para outras alterações, é necessário os cálculos de um engenheiro e maior investimentos em estrutura auxiliar para manter a construção com segurança.

“Dependendo do ambiente podemos fazer móveis acoplados a um pilar ou rebaixos que possam virar sancas e prateleiras e mais um mundo de opções extraídas da nossa criatividade. Aproveitar com criatividade fica mais barato e mais original”, afirma Marieta.

A arquiteta Ana Paula Massote Rohlfs aponta também outro aspecto positivo do recurso de se aproveitar vigas ou colunas. Esses detalhes podem quebrar a monotonia de um ambiente e gerar uma proposta original. “O que seria algo indesejável torna-se o elemento de partida para a criação. Quando não tenho estas interferências ate procuro buscar algo para que o projeto não fique tao obvio, principalmente em espaços com paredes simétricas sejam retangulares ou quadrados”, conta.

Designer Julio Piana utilizou da coluna como elemento artístico - Gustavo Xavier/divulgação Morar Mais Designer Julio Piana utilizou da coluna como elemento artístico


Ana Paula sugere ainda outras utilizações para os elementos estruturais. Colunas podem ser o ponto de partida para aparadores, torres de adega ou cristaleiras. Já as vigas servem para níveis de forro ou projetos de iluminação.

As colunas devem ser bem estudadas, pois um bom projeto pode aumentar ou reduzir a volumetria do ambiente, de acordo com o objetivo do projeto. “Gosto muito das diferenças de prumadas muitas vezes ocasionada por pilares com espessuras maiores do que a parede. Este detalhe da efeitos lindos de profundidade ao usar espelho”, ressalta Rohlfs.

Mesmo no caso de construções, manter-se as colunas em evidência pode ser uma boa saída.”Permitir que elas sejam aparentes fazem projetos únicos, ousados e bem contemporâneos. O panorama da arquitetura mundial é que a estética da volumetria seja menos óbvia para provocar emoções e surpresas”, complementa.

Defeito proposital

A ideia de se deixar estruturas aparentes não é restrito a projetos de reforma. Em alguns casos, esse recurso já é imaginado em casas ou apartamentos em construção. O designer de interiores Julio Piana conta que essa tendência já era observada nos lofts americanos, desde os anos 70, em que uma das  características é deixar tubos e conexões de luz aparentes.

Segundo Piana,  colunas e vigas podem ser úteis para setorizar ambientes. É possível instalar biombos ou se valer como “ilhas”, pontos de diálogo com outra parte da decoração. “Devemos tornar o ‘problema’ central em solução central. Eu diria que nem todos os clientes vão se valer desse recuso, mas é sempre bem vindo. Deve-se valer de tudo que se tenha `amão para tirar algum proveito estético”, analisa o designer.

Eduardo Almeida/RA Studio



Em seu projeto “Escritório multifuncional sustentável”, na Morar Mais 2012, Julio utilizou-se de uma coluna como elemento artístico. O pilar foi recoberto com tábuas de madeira de demolição, dentro da proposta de reaproveitamento. Antes um ruído no projeto, a coluna tornou-se um dos destaques.

“Fiz a representação de uma árvore de restos de madeira que marcava a divisão de dois ambientes, a mesa de trabalho e a área de circulação”, diz. Segundo Piana, os designers devem procurar uma forma de utilizar os elementos conflitantes de forma a valorizar o projeto. “O que isso agrega ao meu projeto ao invés de ‘como vou me livrar disso’”, comenta.

Eduardo Almeida/RA Studio
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