Reduto boêmio na década de 1960 e início dos anos 1970, bairro ao lado do Centro tenta descobrir sua nova vocação e se apresenta como boa oportunidade de investimento a médio e longo prazos
Moradores acreditam que duplicação da Avenida Antônio Carlos vai valorizar os imóveis na região
Uma concentração de casas habitadas pelos primeiros operários de Belo Horizonte, em torno de uma pequena lagoa, deu origem ao Bairro Lagoinha, na Região Noroeste da capital. Algumas famílias descendentes dos primeiros imigrantes italianos ainda residem na região, o que fez do lugar, por muitos anos, um pedacinho da velha Itália na cidade construída há 111 anos.
O bairro fica ao lado do Centro de Belo Horizonte e abriga referências importantes para quem mora ou visita a cidade, como a estação de metrô, a Igreja Batista da Lagoinha, o Colégio Batista Mineiro e o Mercado da Lagoinha.
No século 20, a Praça Vaz de Melo e quarteirões ao redor, entre o terminal rodoviário e viadutos, formavam o trecho que muitos chamavam de Velha Lagoinha. O local era um pedaço da cidade que fervilhava à noite e dormia durante o dia. A boemia teve seu auge na década de 1960, quando muitas famílias optaram por deixar o bairro.
A paisagem foi radicalmente transformada com a construção e, mais tarde, a duplicação do túnel da Lagoinha. A chegada do metrô facilitou o transporte dos moradores da periferia para a região central, mas engoliu os lugares preferidos pelos seresteiros, dançarinos e amantes da noite belo-horizontina.
O burburinho nos botequins lotados, nas pensões, no mercado, nas farmácias e cinemas, que destoavam do sossego dos bairros vizinhos, não existe mais. Para muitos moradores, a Lagoinha encolheu para que o Centro da cidade pudesse crescer e ainda não encontrou seu novo caminho. Enquanto isso, o mercado imobiliário tenta decifrar como se dará a reocupação do bairro.
"Algumas pessoas sentem falta dos casarões antigos e da vida boêmia. Eu prefiro a modernização" Pedro José de Barros Neto, comerciante
Pedro José de Barros Neto é dono de um pequeno bar e lanchonete na Rua Além Paraíba. O estabelecimento mantém as portas abertas há mais de 70 anos, mas não guarda qualquer semelhança com o agito do passado. Para ele, o passado da região não deixa nenhuma saudade. Pedro diz que a abertura de avenidas e praças nos últimos ano deixou o bairro muito mais bonito. "Algumas pessoas sentem falta dos casarões antigos e da vida boêmia. Eu prefiro a modernização". Para ele, o programa Centro Vivo, criado pela Prefeitura de Belo Horizonte, melhorou muito a segurança e contribui para as mudanças positivas na região.
CRESCIMENTO
Para o comerciante, parece que a Lagoinha está parada no tempo e que só voltará a crescer quando houver equilíbrio entre a preservação do patrimônio com o desenvolvimento. Como o bairro tem poucos prédios, algumas restrições para construção e muitos lotes vagos e casarões abandonados, Pedro acredita que a região só conquistará investidores atraídos pelo preço dos imóveis e que estejam sensibilizados para a cultura da preservação.
Para a retomada da expansão do local e atração de novos moradores, o comerciante aposta nas obras da Avenida Antônio Carlos, que devem melhorar o trânsito, e, principalmente, na boa localização do bairro. "Dá para ir ao Centro a pé".
Pelo menos por enquanto, a expansão do bairro segue trajetória distinta da região onde se encontra. Enquanto a Fundação Ipead, vinculada à UFMG, apontava, em junho passado, o valor médio do metro quadrado construído em apartamento na Região Noroeste em R$ 2.165, um belo casarão na Rua Além Paraíba, a poucos quarteirões da estação do metrô, com 416 metros construídos, está à venda por R$ 192 mil.
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