Beleza na construção

Canteiro de obras vira galeria de arte

Construtoras, agências e artistas plásticos aprovam a nova legislação que transforma tapumes em painéis

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postado em 07/03/2013 09:41 / atualizado em 07/03/2013 10:15 Sara Lima /jornalismo@uai.com.br

Espaço para arte e publicidade desde que devidamente autorizado - Pedro Vilela/Agência i7 Espaço para arte e publicidade desde que devidamente autorizado


Os dias de tapumes monocromáticos e com função apenas de delimitar canteiros de obras estão contados em Belo Horizonte. A falta de cores variadas deve dar lugar a obras de arte como pinturas, grafites, plotagens e tudo o que dê incentivo à cultura no município. É o que propõe o Decreto 15.155 de 26 de fevereiro de 2013, do Poder Executivo municipal, assinado pelo prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda. Pela norma, as construtoras poderão colocar engenhos de publicidade nos tapumes, desde que instalem intervenções artísticas nas estruturas com altura máxima de cinco metros.

Para o vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Lucas Guerra Martins, o decreto pode esclarecer uma questão que era omissa no Código de Posturas de BH relacionada a tapumes e construções. “O que a prefeitura fez foi criar alguma forma decorativa e ter uma representação gráfica do imóvel. É uma forma de sinalizar o empreendimento que a construtora está fazendo”, afirma. Ele diz ainda que além de ajudar as empresas a divulgar empreendimentos, a iniciativa incentiva a produção artística do município, melhorando também o visual do canteiro de obras.

“Quando se coloca um trabalho artístico seja um grafite, silkagem, ou outro, em vez de estar com um tapume monocromático, malfeito, você está com uma pintura, obra de arte, ou outros trabalhos que melhoram a qualidade visual da cidade”, afirma. E o decreto também foi visto com bons olhos por outros representantes do setor imobiliário. Para o presidente da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi), Evandro Negrão de Lima Júnior, a avaliação sobre a norma é positiva, uma vez que a partir de agora será permitido anunciar as empresas envolvidas na obra.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press


“Sem dúvida que deixará a cidade mais bonita. Vamos ter desenhos artísticos, e os tapumes não vão ficar mais em branco. E nada mais justo do que uma empresa poder dizer que aquele empreendimento é dela. Afinal foi ela quem comprou o terreno e está bancando o empreendimento”, destaca. O assessor especial da Secretaria de Governo de Belo Horizonte, Leonardo Castro, explica que a instalação das artes é condição para que a empresa coloque suas propagandas. Mas o objetivo do decreto não é apenas pintar os tapumes, e sim incentivar a produção cultural da cidade.

Antes, a empresa e o artista deverão apresentar projeto da obra artística que pretendem instalar e ele será avaliado pela Fundação Municipal de Cultura (FMC) para garantir que a instalação não fuja do que foi proposto na norma. “A Fundação vai fazer uma espécie de curadoria para permitir que (a arte) não saia do propósito e garantir que a obra realmente seja uma expressão artística”, salienta. E esse processo preocupa o presidente da CMI/Secovi. “Mesmo que tenha que passar pelo crivo da FMC, há aspectos positivos e também o ponto negativo, que é a burocracia de ter que aprovar um projeto na prefeitura”, afirma.

Mas Leonardo garante: “A ideia é fazer um processo bem simples de licenciamento”. Segundo o assessor do Executivo municipal, já está grande a procura por informações sobre o decreto por parte das empresas. Além disso, a FMC está indicando artistas e disponibilizando alguns materiais, como fotos históricas da cidade, para inspirar as construtoras. Já o custeio das intervenções será uma negociação entre empresas e artistas. As obras de arte poderão ficar nos tapumes pelo tempo do alvará da construção, que, hoje, pela legislação municipal, é de quatro anos. “A iniciativa melhora o visual da cidade porque o tapume é uma das coisas mais agressivas da paisagem urbana. E com a mudança a gente consegue identificar quem trabalha e ao mesmo tempo deixa o ambiente mais leve.”

Ramon Lisboa/EM/D.A Press


TAPUMES DECORADOS
O Decreto 15.155, de 26 de fevereiro de 2013, estabelece que as manifestações artísticas podem permanecer pelo tempo de validade do alvará, que, pela legislação, é de quatro anos

   

Construtoras e artistas da capital comemoram a mudança do Código de Posturas no que se refere à instalação de engenhos de publicidade em tapumes da construção civil. Se antes eles eram limitados a realizar intervenções nessas estruturas – e quando o faziam era de forma irregular – agora terão liberdade de deixarem os espaços com um viés bem cultural. A paisagem urbana deve mudar e, com isso, as empresas de construções já pensam também nas mudanças dos tapumes de suas obras.

A EPO Engenharia já realizou algumas intervenções do tipo em novembro de 2011, quando foram feitos grafites em uma construção na Avenida Raja Gabáglia, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul, e outra na região Nordeste da capital. No entanto, a fiscalização da prefeitura havia barrado as obras artísticas e os tapumes tiveram que ser trocados. Mas de acordo com a coordenadora de comunicação da empresa, Carolina Lara, com a mudança a ideia é que, em breve, seja criada uma arte “padrão” em todos os tapumes da EPO. E explica: “Vamos criar um piloto e lançar uma forma de comunicação visual padronizada para valorizar a arte urbana e ao mesmo tempo divulgar o empreendimento. Ainda há dúvida de como teremos que aprovar o projeto junto à curadoria de cultura, mas vamos procurar entender para poder agilizar ao máximo”.

"O Decreto permite a divulgação de engenhos de publicidade de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na obra" - Leonardo Castro, assessor especial da Secretaria de Governo de BH
Para outras construtoras a permissão será novidade. É o caso da MRV Engenharia, por exemplo, que nunca utilizou obras de arte em seus tapumes. “Esse trabalho vai ser feito de acordo com nossos próximos lançamentos. A gente já pode pensar em como utilizar o benefício desse decreto, pois essa é uma forma benéfica de apresentar a marca da empresa à população. De certa forma você associa sua marca a movimentos artísticos”, diz o gestor de marketing da empresa, Henrri do Verge. Para ele, a instalação de publicidade em conjunto com intervenções artísticas só tem pontos positivos. “É positivo, pois fortalece movimentos artísticos da cidade e regulamenta a exposição visual e combate a poluição visual, muito frequente em canteiro de obras”, finaliza.

No caso da AP Ponto, a iniciativa também será inédita, como explica o diretor da agência de publicidade 300 comunicação, que faz a gestão de marketing da construtora, Diogo Dieguez. “A grande maioria das nossas obras está na Região Metropolitana de Belo Horizonte e as de BH já foram entregues. Mas na próxima obra que estivermos presentes, na capital, vamos estar com essa regra, tentando fazer algo bem criativo e legal para transformar o lugar”, afirma.

Segundo ele, a nova regra vai criar galerias de arte a céu aberto, além de estimular a produção cultural de Belo Horizonte. “Vai dar oportunidade para jovens talentos e no campo de arte da nossa cidade isso é bem-vindo. Num segundo momento, passa a ser um desafio a mais para as construtoras, pois todas as vezes que ela desenvolver um tapume publicitário será uma grande oportunidade de fazer algo mais positivo para a população”, afirma.

Oportunidade De um lado, as construtoras aprovam a ideia de poderem divulgar suas marcas em suas próprias construções. Do outro, os artistas belo-horizontinos já veem na mudança do Código de Posturas de BH uma nova forma de mostrar ainda mais seus trabalhos. Em conjunto com um grupo de grafiteiros, o grafiteiro Frederico Eustáquio, conhecido no meio como Negro F, realizou uma das artes para a EPO Engenharia. Ele comemora o fato de agora existir uma norma regulamentando a questão.

Tapumes decorados no Complexo Comercial da EPO, na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, na tendência desde 2011  - Pedro Vilela/Agência i7 Tapumes decorados no Complexo Comercial da EPO, na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, na tendência desde 2011


“Estamos no diálogo com algumas empresas para estabelecer esse trabalho de novo. Os artistas ainda estão pegando as informações e começando a entender melhor a respeito. Acredito que deve começar a rolar uma produção em série e deve ser bacana para todo mundo”, diz Fred, que coordena diversos projetos de grafite em Belo Horizonte.

Para o também grafiteiro Sérgio Luiz do Amaral, o Iron, que afirma ter feito arte em muitos tapumes no decorrer de sua carreira, a partir de agora haverá mais um local para se expressar. “É mais uma superfície para fazer o grafite. O tapume veio para agregar mais ainda, porque o grafite está ganhando a rua. Além disso, é importante e valoriza a nossa arte”, destaca. 

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