Sob a energia das luzes

Um campo de trabalho promissor para arquitetos e designers de interiores se abre com a necessidade de melhor orientação para projetos luminotécnicos na área da saúde, que ainda conta com certa escassez de profissionais especializados. A iluminação de hospitais, clínicas, consultórios e outros ambientes dentro deste segmento, entra em cena para conciliar objetivos diversos, como um ponto crucial para garantir a qualidade do serviço. Se aplicada de maneira inadequada, a luz nestes espaços pode dificultar o trabalho de médicos e enfermeiros, mas, quando bem trabalhada, se torna uma grande aliada para um bom atendimento.

Considerando vários tipos de lâmpadas com emissões diversas de ondas eletromagnéticas (que produzem mais ou menos calor, distorcem ou não as cores, com níveis de intensidade luminosa variados), uma proposta luminotécnica eficiente para a área da saúde deve ser assertiva na humanização dos ambientes, como explica a desenhista industrial, designer e especialista em iluminação, Flávia Bizzotto. "Existem normas reguladoras básicas da Anvisa e da ABNT que regem estes projetos que, casadas com a vivência e a sensibilidade do light designer, vão trazer um resultado satisfatório para o bem-estar das pessoas que estarão nos espaços determinados", afirma. O tipo e a quantidade de equipamentos de iluminação vão variar a cada caso, continua. "É importante que o paciente tenha conforto visual, mas também é essencial que a intensidade da luz seja suficiente para que médicos e enfermeiros realizem bem os procedimentos". Nas clínicas odontológicas e salas de cirurgia, por exemplo, Flávia diz que o posicionamento das luzes é fundamental para dar visibilidade máxima. "Já em um consultório dermatológico, é preciso evitar luzes que alteram o tom ou a cor da pele", diz.

Em um bloco cirúrgico, por exemplo, onde é preciso uma alta visibilidade, são recomendados entre 10 mil e 20 mil lux (medida unitária de intensidade luminosa), sobre a mesa do paciente, e o entorno também deve ser bem iluminado com a metade disso. Já em uma clínica odontológica, esse patamar é bem menor, entre 500 e 750 lux, e o refletor do dentista deve ter a luminária fechada. Para um consultório oftamológico, o ambiente deve ser mais escuro, e é indicada uma luz mais tênue e a dimerização, explica Flávia. "Em centros estéticos, uma boa iluminação é feita de forma mais indireta sobre o cliente; em quartos de hospital, é necessário um foco eficiente em cima da cama para otimizar os exames, uma iluminação razoável no ambiente geral, uma arandela na cabeceira para o conforto do paciente em uma leitura, por exemplo, e balizadores a cerca de 50 cm do piso para facilitar a circulação à noite; e, nas salas das enfermeiras, alto nível de luminância para o trabalho, com possibilidade de diminiu-lo nas horas de repouso", explica.

Através dos cálculos luminotécnicos e as normas previstas, um projeto considera fluxo, cor e temperatura de luz adaptados a cada caso, para se chegar ao melhor tipo de equipamento, à luminária mais adequada, de acordo com o que se quer favorecer, aliando a isso a estética, frisa a designer de interiores Thaís Donato. "Para conceber qualquer proposta luminotécnica, também no setor da saúde, é preciso saber qual será a finalidade do espaço para escolher o tipo da luz. Isso deve seguir critérios básicos e exigências mínimas indicadas nas normas reguladoras, conjugados com a experiência do designer", pontua.

A seleção correta dos índices de luminância perpassa as diferentes especialidades médicas, ambientes diferentes dentro de um mesmo contexto, e podem impedir ou favorecer o bom trabalho do profissional da saúde, lembra a arquiteta Jaqueline Frauches. "O arquiteto deve trabalhar em conjunto com um especialista em iluminação para chegar a um resultado satisfatório". Iluminação adequada para melhorar a sensação de uma pessoa que acaba de passar por uma cirurgia, possibilidades de produzir artificialmente a noite ou o dia de acordo com a necessidade, lâmpadas fluorescentes bem especificadas, novas tecnologias luminotécnicas com os LEDs, estão entre as diversas possibilidades nesta área, acrescenta a designer de interiores Elizabeth Boroni. "Dentre os variáveis graus de luminância e índices de reprodução de cor, existe um conhecimento luminotécnico adequado para cada tipo de ambiente, e estes processos devem estar a favor do ser humano", orienta Elizabeth.

RELAXAMENTO

Na Clínica e Spa Ortomolecular Longevità, todo o projeto de iluminação, casado com as cores, temperaturas e aromas características para um centro estético, foi concebido para otimizar o bem-estar dos clientes, e o retorno é sempre positivo, como frisa a proprietária, Daniela Prata. Nas salas de massagem, por exemplo, os LEDs coloridos servem para aliviar a ansiedade e o estresse, variando as cores de acordo com o tipo de problema pelo qual o paciente está passando, e em toda clínica a luz se torna uma vedete. "Se a pessoa está muito ansiosa, ligamos os LEDs azuis e, se sentimos que está em desarmonia, o verde traz tranquilidade. Na área para limpeza de pele, a luz é mais indireta para não incomodar o paciente, e vem mais forte em uma lupa. Já nas salas de banho, o ambiente é mais escuro, com uma dicróica furtacor direcionada para a água, e um 'céu de estrelas' de LEDs que apagam e acendem. Já na recepção, uma claraboia no pé direito alto favorece a luz natural, e nichos com imagens iluminadas por dentro conferem um clima agradável. Aqui, a iluminação bem trabalhada é um diferencial", completa.