As possibilidades são infinitas. Decorar uma casa é um trabalho de arte que precisa ser baseado em coerência, bom gosto, criatividade e harmonia, principalmente entre ideias e gostos distintos. Esse é um dos maiores desafios enfrentados por clientes e designers na busca por um resultado que alinhe as melhores sugestões de cada um.
Porém, essa parceria pode não se desenvolver da melhor maneira possível. Regina Martins, professora de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Newton Paiva, explica que o bom profissional precisa estudar os seus clientes. “O diálogo é fundamental. Por meio de conversa, o designer tem que apresentar as soluções existentes e sentir como o contratante reage a cada sugestão. Eles devem manter uma sintonia, uma relação de confiança. Do contrário, fica difícil conciliar competência profissional e o desejo do cliente.”
O ideal é que ambos estejam abertos para novas possibilidades. “Existem profissionais que não abrem mão do seu estilo e da sua forma de projetar, assim como há clientes que gostam de impor sua vontade, mesmo que ela não seja a mais adequada para atender a uma situação.” Para evitar problemas e assegurar que o resultado final seja positivo, além de manter uma certa flexibilidade, é importante observar as atitudes do profissional. Se o designer quase nunca aceita pedidos, ou não apresenta soluções técnica e esteticamente compatíveis com a demanda, o sinal é de alerta. Se ele tomar decisões e deliberar ações sem que o contratante seja informado, ou se posicionar de forma intransigente em relação a um estilo, tentando convencer a todo custo de que aquele é o melhor, é um indício de que provavelmente haverá futuros atritos.
Um encontro pessoal para discutir ideias iniciais também é indicado. Assim, é possível atestar se a maneira como o profissional pensa e apresenta possíveis soluções se alinha com os desejos e modo de pensar de quem usufruirá do espaço a ser projetado. O designer escolhido precisa ser compatível também com a realidade financeira do contratante.
Em uma sala de jantar e TV, o trabalho foi mostrar que a mesa teria que ser menor do que o dono da casa queria para um equilíbrio no ambiente
Do outro lado, os desafios também são muitos. Em alguns casos, o profissional precisa desvendar o que o cliente deseja. Para isso, há todo um processo, como explica a designer de interiores Roberta Cavina. “Inicialmente, é feito um briefing com o cliente, onde todas as informações são recolhidas. Perguntas como quantas pessoas moram no imóvel, como é a rotina de cada uma, qual cômodo é mais utilizado, se alguém trabalha em casa, se recebem muitos amigos, se têm animais, e outras precisam ser feitas. Por fim, o projeto precisa se adequar a esses quesitos.”
Segundo Roberta, após o briefing é feito o anteprojeto, que é a primeira ideia absorvida a partir da conversa inicial. A partir disso, o cliente faz as observações e o profissional o orienta para chegar a uma ideia que seja viável. Após aprovação, é feito um memorial descritivo com todos os materiais que serão utilizados e suas medidas, que é encaminhado para a equipe de fornecedores que executará o serviço.
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NEGOCIAÇÃO Em casos de ideias não condizentes com o orçamento, com as características do local ou com o estilo desejado, é necessário que haja uma negociação. “Essa é uma parte bem delicada, já que uma palavra mal colocada pode soar arrogante. A maioria dos clientes que apresentam ideias absurdas pensa que como são eles os moradores do imóvel, devem decidir o que é melhor. A partir de todo o conhecimento que temos, devemos apresentar argumentos válidos de que aquilo não é funcional ou que não ficará esteticamente bom, e apresentar novas soluções, mais adequadas, até que o cliente confie na pessoa que contratou.”
A designer destaca dois projetos elaborados por ela, em que foram necessárias algumas negociações. “Fiz uma sala de TV, no Bairro Santo Antônio, em que o cliente deu algumas ideias do que ele gostaria. Mas o espaço não permitia certos mobiliários. Não só pelas medidas, mas também pela proposta da reforma. No fim, após mostrar o anteprojeto, ele viu que as sugestões que ele havia dado não se encaixavam nem no espaço nem na proposta.”
As vezes, é preciso abrir mão de alguns desejos. “Em uma sala de jantar e TV no Bairro Estrela Dalva, não havia possibilidades para uma mesa em tamanhos comerciais no espaço. Foi feita uma mesa sob medida especialmente para o ambiente. De início, o cliente queria uma mesa maior a todo custo, então tive que ir ao local com ele e mostrar com a trena que não haveria espaço nem mesmo para entrar na casa. No fim, ele viu que infelizmente não havia outra solução para o problema a não ser a mesa com tamanho especial, para assim obter um espaço funcional e adequado.”
Diálogo e uma equipe alinhada, que apresenta os problemas e propõe soluções alternativas, são fundamentais. Para a professora Regina Martins, o acompanhamento do próprio profissional é extremamente importante. Ele deve verificar se tudo está sendo realizado conforme o planejado, e, se houver dúvidas, todos devem estar cientes. O cliente deve sempre ser comunicado, e ele deve exigir isso. “A confiança é tudo na realização de um trabalho de qualidade.”
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