Planejamento em cada detalhe

Mesmo com uma legislação avançada e de fácil solução do ponto de vista arquitetônico, os problemas de acessibilidade continuam a bloquear a livre circulação e ainda causar dependência e frustração às pessoas com mobilidade reduzida. Paraplégico, depois de um acidente automobilístico em 2001, Gilmar Marques Gomes se revolta com os obstáculos que tem de superar a cada dia. "A falta de rampas, de elevadores adequados, de respeito ao estacionamento reservado ao portador de deficiência, de banheiros adaptados para a circulação da cadeira de rodas são dificuldades que nos acompanham no dia-a-dia", diz.

Depois do acidente e da temporada de 90 dias internado no Hospital Sara Kubitschek, Gilmar teve que adequar sua casa, planejada em cada detalhe por ele e a esposa, Cacilda, num condomínio na região de Nova Lima, para as suas novas necessidades. "Tive de alargar portas, o banheiro e o closet para ter autonomia", lembra. Mas os obstáculos continuam a alterar sua qualidade de vida. "Como ganho a vida comprando e vendendo terrenos no condomínio onde moro, já que não encontrei mais emprego depois do acidente, tenho de ir sempre ao prédio da Prefeitura de Nova Lima, mas preciso entrar pela garagem, porque a sede do município não tem rampa de acesso na entrada principal."

Há pouco tempo, disposto a comprar um imóvel na Zona Sul de Belo Horizonte, Gilmar se interessou por um apartamento próximo à Praça JK. "É um imóvel novo, com quatro quartos, duas suítes e duas semi-suítes, de R$ 450 mil. Mas, ao conversar com o corretor por telefone, contei sobre a minha deficiência, e ele me descartou de cara: 'Não venha conhecer o apartamento, porque a sua cadeira não vai entrar nos quartos, nem nos banheiros'. Como isso pode ainda ocorrer nos dias de hoje?", indaga.