Entre janeiro e março de 2006, o professor Dalmo Lúcio Mendes Figueiredo, da Escola de Engenharia da UFMG, analisou auditorias promovidas, de julho a dezembro de 2005, pela SAS Certificadora – uma das empresas credenciadas pelo PBQP-H para validar processos de certificação – em 50 construtoras brasileiras, 60% delas sediadas em Minas Gerais e o restante nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Pará e Maranhão.
A intenção era checar em quais requisitos das normas de qualidade as empresas apresentavam maior número de não-conformidades. Com o trabalho, o professor constatou que os registros documentais de pessoal são as principais dificuldades encontradas pelas construtoras para se adequarem a sistemas de gestão da qualidade.
Das 50 construtoras pesquisadas, 40% apresentaram não-conformidades para o requisito 6.2.2 das normas de qualidade, que exige das empresas a determinação de competência, o treinamento e os respectivos registros apropriados dos profissionais que atuam no canteiro de obra. Na avaliação de Dalmo, o problema tem duas origens distintas. “Por um lado, notamos que as construtoras não procuram minimizar as exigências de competência em seu manual de qualidade ou estabelecer critérios compatíveis com a situação dos trabalhadores da construção civil. Por outro, as empresas ainda não desenvolveram estrutura gerencial que implique amadurecimento na gestão documental, principalmente dos documentos relativos à qualificação do profissional”, diz.
Revisão
O professor prega a revisão do requisito 6.2.2. Segundo ele, não-conformidades para o requisito indicam falha no processo de documentação e não necessariamente ausência de qualificação dos profissionais. “Essa sim, importante para a sustentabilidade do sistema de gestão da qualidade de uma empresa”, explica. Antes que venha a revisão das normas, Dalmo sugere às empresas que facilitem o processo de documentação de competências de colaboradores com a introdução de testes de conhecimentos formulados pela própria construtora, que podem substituir os certificados oficiais.
Foi o que ocorreu na Habitare Construtora. Segundo Alexandre Soares, o candidato a vaga no canteiro de obras da empresa tem de apresentar o diploma ou certificado ou passa por um teste. Se aprovado, pode ser contratado. Na RKM Engenharia, que trabalha com subcontratação de empreiteiras, a exigência de documentos foi eliminada. “Estabelecemos, no contrato com a empreiteira, um índice diário de produtividade do trabalhador que é monitorado durante a obra. Se o trabalhador fica abaixo do índice comunicamos à empreiteira e, no caso de reincidência, pedimos a substituição do profissional”, explica o diretor Ricardo Alfeu.
Para aprimorar o gerenciamento de documentos, a MRV Engenharia está investindo na compra de software que vai permitir o preenchimento e arquivamento dos formulários na internet, necessários aos controles do sistema de qualidade. De acordo com o superintendente de Planejamento da construtora, Evandro de Souza Carvalho, o novo processo deve começar a vigorar em 60 dias.