Portarias com vidros blindados, piso em mármore italiano travertino, usado em edificações romanas, elevadores para carros subirem e estacionarem em seu próprio andar, janelas e pisos com monitoramento remoto, e em alguns casos controlados pelos celulares, closets e banheiros privativos para os senhores e as senhoras nas suítes masters, sala com isolamento acústico para as curtições de música (garage band), além de sala de ginástica (fitness center), piscina e sauna (spa) e parquinho (espaço kids). Quanto custa tudo isso? No mínimo 1 milhão. De reais, embora, na maioria dos casos, a cifra supere o milhão de dólares. Em alguns casos, dependendo das exigências do cliente, pode chegar a R$ 14 milhões na Zona Sul de Belo Horizonte.
Os canteiros de obra estão em ritmo frenético para atender a clientela de imóveis de alto e altíssimo luxo. São 954 apartamentos com valores acima de R$ 1 milhão que estão sendo lançados ou construídos na Zona Sul e região de Nova Lima pelas principais construtoras que atuam no segmento. A maior parte já está vendida, em bairros como Lourdes, Funcionários, Santo Antônio, Santa Lúcia, Belvedere e no Vila da Serra. Ponto privilegiado ou vista para algo "verde" são algumas exigências da clientela.
Empresários bem-sucedidos e profissionais liberais lideram a lista de compradores. A proliferação desses clientes, segundo construtoras e imobiliárias, é explicada pelo quadro econômico atual: ganhos espetaculares dos setores de mineração e siderurgia, a especulação na bolsa de valores, o recorde de vendas de veículos e o crescimento da economia levaram os empresários a engordar os bolsos, trocar de apartamento ou aplicar no imóvel como investimento. "O poder aquisitivo da população cresceu, e a procura por esse tipo de imóvel também. Se estamos construindo, é porque há demanda", afirma Ítalo Gaetani, diretor-superintedente da construtora Castor, que atua há 26 anos no mercado de alto luxo.
A reportagem visitou e conversou com construtoras voltadas para o luxo e donos dos imóveis milionários. O preço mais alto encontrado foi de um triplex de cobertura: R$ 14 milhões. O investimento é explicado pela proprietária, que prefere se manter no anonimato. "O apartamento é todo personalizado e automatizado. O aquecimento do piso e o sistema de segurança, por exemplo, podem ser controlados pelo computador ou pelo meu telefone celular", diz.
Espaço também não falta nesse imóvel. São 1,2 mil metros quadrados, 10 vezes a área média da maioria dos apartamentos de três quartos da Zona Sul da capital. Só o closet da suíte master tem área próxima da média de um apartamento de luxo na capital. No imóvel, o mármore italiano não fica restrito ao piso dos ambientes internos: está presente na piscina e nas paredes. O triplex tem ainda um elevador interno que vai para os três andares, além de sala de ginástica, sala de brinquedos, ambiente de som com isolamento acústico, além de 13 vagas de garagem. "A concepção foi toda feita dentro do meu estilo de vida", ressalta.
Os gastos da clientela vip não se restringem à compra do imóvel. Escultura do mineiro Alfredo Ceschiatti, presente nos jardins do Museu de Arte da Pampulha, também está na entrada de outro apartamento de alto luxo visitado pela reportagem, assim como quadros do pintor mineiro Inimá de Paula. A porta de entrada do apartamento, de 1,5 metro de largura e cristal gigante aplicado na maçaneta, já dá uma idéia da suntuosidade do imóvel, avaliado em R$ 4 milhões. Os cristais completam a decoração do lustre do hall de entrada, sala de jantar e suítes.
O ritmo do crescimento das fortunas no Brasil é maior do que nos outros países da América Latina e está entre os mais fortes do mundo. No ano passado, o número de brasileiros com mais de US$ 1 milhão (R$ 1,6 milhão), chegou a 143 mil. O crescimento foi de 19,16%, justificado pelo crescimento da economia do país. Com isso, o Brasil foi o terceiro país com o maior aumento no volume de pessoas milionárias, segundo o 12º Relatório Anual sobre a Riqueza Mundial, elaborado pela Merrill Lynch em parceria com a CapGemini.