Não pela arquitetura diferenciada, ou um design inovador. Existem casas e apartamentos que chamam a atenção por causa de manchas acinzentadas ou até mesmo pretas, em paredes e rodapés, ou bolhas na pintura que, normalmente, ficam nas áreas frias dos imóveis. Esses são claros sinais de infiltração que devem ser observados na hora de comprar ou alugar. A infiltração significa a penetração de água nas estruturas, líquida ou em vapor, através de fissuras ou poros de materiais não impermeabilizados, indicando falhas no processo construtivo. A preocupação é maior já que ambientes úmidos podem provocar alergia e problemas respiratórios mais sérios. Mas, um pouco de cuidado ao construir, para evitar a umidade indesejável em qualquer circunstância, e que compromete a durabilidade da construção, pode evitar muita dor de cabeça – os processos de impermeabilização já previstos no projeto da obra correspondem de 1% a 3% do custo total, valor que fica quatro vezes maior no caso de futuras reformas.
A infiltração é decorrente de diversos motivos, como explica o professor do Curso de Especialização em Construção Civil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dalmo Lúcio Figueiredo. Ela pode surgir pela absorção de umidade pelas paredes externas, como em casos de chuva, que penetram e passam para o interior do imóvel, criando patologias como bolhas nas pinturas. "Isso ocorre pela falta de qualidade dos materiais externos de revestimento, ou problemas na execução, como a não impermeabilização", explica.
Dá-se o nome de capilaridade ao tipo de infiltração que ocorre nos rodapés e nas áreas externas em contato direto com o solo, quando as paredes absorvem a água do terreno através dos alicerces não impermeabilizados. "Quando se está no primeiro pavimento, a água tende a subir do lençol freático para o solo, o que é muito comum nos locais mais baixos das cidades. Para evitar isso, é fundamental que as fundações estejam também impermeabilizadas", afirma Dalmo.
Em coberturas, há o problema quando a laje absorve a água que passa para o teto, na parte logo abaixo. Em áreas de encostas, a umidade que provém da terra encostada em paredes não impermeabilizadas também pode penetrar no interior dos edifícios. Há ainda o tipo de infiltração causado por rompimento e vazamento da tubulação, um problema mais complexo. "No momento da construção, se chove, por exemplo, e o tijolo absorve água, ela pode ficar em seu interior e, mais tarde, com a movimentação natural, pode ocasionar fissuras na tubulação, frestas, por onde a umidade sai, criando bolhas e a infiltração", conta o professor. Já a infiltração por condensação ocorre pela diferença de temperatura, aparecendo quando a temperatura interna é maior que a externa. "Outro local onde costuma aparecer infiltrações é no peitoril das janelas, devido à problemas de calafetagem, quando não há a vedação correta das frestas".
Dalmo explica que nem sempre se pode prever o que acontece com a água, que ele considera ser uma das principais inimigas de um engenheiro. "Por isso, quando se trata de água, não consulte a razão, sempre a experiência", frisa, já que cada situação é diferente. Portanto, o importante é conseguir identificar exatamente a origem do problema, para trabalhar diretamente na causa, sempre com o auxílio de um especialista. "Não adianta só repintar a área afetada".
O arquiteto João Marcos Machado, de 56 anos, teve problemas com dois tipos de infiltração. No apartamento antigo, para onde se mudou com a família há dois anos, a pintura da parede disfarçava a situação. "Aqui tem uma rede de encanamento de água fria e quente, que era ligada ao aquecedor. Mas ele foi retirado e o cano continuou interno. Então, quando abríamos as torneiras, a água chegava a essa tubulação de água quente, o que, com o tempo, causou um acúmulo no cano que resultou na infiltração". Agora ele não usa mais as torneiras de água quente. Com a mancha de mofo no corredor do imóvel, vai ter que trocar todo o encanamento, tanto de água quente, como de fria, já que, além disso, a tubulação é antiga. Morando no último andar, outro problema foi com os estragos causados nas telhas pelas chuvas, quando a água acumulada na laje também causou infiltrações no teto do apartamento.
SOLUÇÃO
Após a análise correta, para corrigir a umidade decorrente de intempéries, pode-se trocar, externamente, o rejuntamento, revestimento cerâmico, revestimento ou, simplesmente, a pintura, fazendo a devida correção internamente. Em relação aos problemas com diferenças de temperatura, a ventilação ajuda e prolonga a vida do revestimento. Em caso de revestimento desagregado, ele deve ser totalmente removido e, em seguida, deve se realizar a limpeza da parede com escova de aço e refazer os revestimentos do piso até o teto, aplicando impermeabilizante e selador, seguindo as instruções do fabricante conforme o produto utilizado. Se o problema persistir, a solução é revestir a parede com material de acabamento rústico e poroso.
João Marcos Machado tem problemas por causa de encanamentos no apartamento
Se a umidade é absorvida pelos tijolos, o que ocorre quando eles tocam o solo ou quando não foi utilizado impermeabilizante no concreto que o separa dos tijolos, vários são os produtos oferecidos no mercado para aplicação. Mas o problema só será solucionado quando os tijolos não tocarem o solo ou estiverem completamente isolados, já que absorvem umidade com muita facilidade. Por isso, nunca se inicia uma parede com a alvenaria sobre as vigas, devendo sempre ficar sobre o contrapiso ou laje, o que é um dos erros mais comuns em obras residenciais sem acompanhamento técnico especializado.
Para um imóvel que ainda será construído, uma boa dica é fazer uma parede dupla, onde a parede externa não toque a interna (um espaço de 10 cm é suficiente), com a instalação de um canalete como base. É importante nunca esquecer de revestir e impermeabilizar as paredes.
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