Sinal de alerta para demolições

Instituto dos Arquitetos do Brasil lança campanha para proteger o patrimônio de Minas e preservar legados históricos

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postado em 16/07/2009 16:03
Prédio do Minas Diesel, na Avenida Antônio Carlos, saiu de cena para reforçar o complexo viário da Lagoinha - Beto Magalhães/Em/D.A Press - 10/6/09 Prédio do Minas Diesel, na Avenida Antônio Carlos, saiu de cena para reforçar o complexo viário da Lagoinha
Elian Guimarães

A demolição do prédio da Minas Diesel, em estilo modernista, construído no fim dos anos 1940, na Avenida Antônio Carlos, esquina de Formiga, no Lagoinha, Região Nordeste, reacendeu a discussão sobre preservação de prédios e monumentos na capital mineira. O antigo prédio art decó do Cine São Cristóvão também foi abaixo na mesma semana.

Belo Horizonte assiste a um complexo e amplo conjunto de obras viárias, visando a facilitar o trânsito de veículos, com influência em toda a região metropolitana. Inúmeros imóveis vêm sendo desapropriados e posteriormente demolidos. O sinal de alerta foi aceso pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), que tentou, em vão, a revisão do traçado da nova Antônio Carlos, em favor da manutenção do prédio da antiga concessionária Mercedes Benz, Minas Diesel. O projeto é de autoria do arquiteto modernista Oswaldo Santa Cruz Néri, autor também do projeto do Edifício Panorama, na Praça ABC (esquina da Rua Cláudio Manoel com Avenida Afonso Pena).

Em junho, foi lançada pelo IAB, com apoio das escolas de arquitetura da UFMG e PUC Minas, a campanha Ano Estadual de Preservação do Patrimônio Modernista Professor Sylvio de Vasconcellos, visando à proteção de prédios e conjuntos arquitetônicos no estado. Vasconcellos foi professor da Escola de Arquitetura da UFMG, estudioso do barroco mineiro e ex-presidente da 13ª seção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

"O que mais causou perplexidade é que o destino daquele prédio na Lagoinha havia sido discutido no conselho do patrimônio e havia controvérsias quanto à preservação do bem. O problema é que o tecnicismo voltado para o carro sempre vence por aqui. A demolição começou pelos fundos, oculta por um tapume e não houve qualquer consulta ao IAB", reclama Cláudia Pires, presidente da entidade em Minas.

O instituto faz um alerta à população sobre aquilo que BH está adquirindo como prejuízo: "a gente está deixando de preservar coisas que, no futuro, seriam legados históricos das décadas de 1940, 1950 e 1960, que estão virando trevos, viadutos e alargamentos". Cláudia exemplifica a situação em que se encontram prédios marcantes da era modernista, como o Colégio Estadual Central, no Bairro de Lourdes, na Zona Sul ou o Iate Tênis Clube, na Pampulha, que, segundo ela, ainda não são considerados patrimônios da cidade.

Projetada para a modernidade, com seus 111 anos, Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira a comportar um complexo totalmente modernista: a Pampulha, na década de 1940. Posteriormente, foram construídos vários outros prédios e complexos modernistas. A Fundação Municipal de Cultura tem trabalhado um inventário do patrimônio modernista, mas que, por si só, segundo Cláudia Pires, ainda não define uma política pública de preservação.

A diretora de patrimônio e cultura da Fundação Municipal de Cultura, Michele Arroyo, reconhece que, historicamente, se pensava na política de proteção de maneira menos ampla. Havia uma cultura de que a arquitetura genuinamente brasileira era o colonial e o barroco, que era colocada como o grande patrimônio a ser preservado. Mas ressalta que houve mudanças significativas, principalmente a partir de 1994.

No Brasil, o primeiro prédio modernista foi construído no Rio de Janeiro, em 1939, o Ministério da Educação e Cultura. Logo depois, BH consegue inaugurar o primeiro complexo modernista, na gestão do então prefeito Juscelino Kubitschek, a Pampulha. Nascia o conceito de modernidade no Brasil e Niemeyer conseguiu imprimir identidade própria, colocando naquele conjunto uma cara brasileira, que se replicaria por todo o Brasil.

Vários outros protótipos do modernismo tiveram Minas como cenário e hoje constituem acervo inigualável, com destaque para BH e cidades como Cataguases, Juiz de Fora e Alfenas.
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