Um jardim na parede

Morar em apartamentos não significa ficar longe do verde. Especialistas mostram como é possível usar até mesmo pequenos espaços verticais em casa para criar 'painéis vivos'

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postado em 17/07/2011 18:08 Júnia Leticia /Estado de Minas

A professora de jardinagem do Inap Lúcia Borges diz que o local de apoio da estrutura na qual será instalada a vegetação deve ser impermeabilizado para evitar alguns problemas, como infiltração e mofo - Fotos: Eduardo Almeida/RA Studio A professora de jardinagem do Inap Lúcia Borges diz que o local de apoio da estrutura na qual será instalada a vegetação deve ser impermeabilizado para evitar alguns problemas, como infiltração e mofo
Abrir mão do verde é algo impensável para muita gente, principalmente para quem já morou em casa. Ainda bem que já é possível contar com técnicas que permitem o aproveitamento de espaços e facilitam a instalação de plantas mesmo em ambientes reduzidos, como apartamentos. Um desses locais é a parede, que ganha mais vida com os chamados jardins verticais.

O paisagista e ambientalista Caio Zoza explica que o termo é o nome dado à formação de uma ou mais espécies de plantas que ocupam uma parte ou toda uma parede, muro, troncos, placas verticais de materiais diversos e até mesmo tubulações expostas. “Vasos e cachepôs dispostos em uma parede ou moldura verticalizada (quadro verde) também recebem a mesma denominação”, explica.

Para fazê-los, há uma série de sistemas de montagem no mercado. A maioria deles usa módulos pré-fabricados que facilitam a disposição da parede verde. “Mas podemos montar um jardim vertical usando apenas vasos de diferentes modelos ou não, dispostos aleatoriamente em um plano vertical, que pode ser uma parede, muro, dry-wall, placas de ferro ou madeira”, comenta o Caio.

Vasos fixados na parede, pendurados em uma estrutura ou em uma tela são as sugestões dadas pelo paisagista Droysen Tomich. “Hoje, existem diversos tipos de módulos para construção de paredes que já têm um local para plantar a espécie escolhida”, afirma. Professora de teoria da jardinagem no Instituto de Arte e Projeto (Inap), Lúcia Borges diz que os jardins verticais podem ser feitos de diversas maneiras. “Normalmente, os mais usados hoje são com vasos apoiados em uma treliça. A parede ou muro deve ser impermeabilizado e um sistema de irrigação montado”, explica.

Com relação aos critérios para fazê-los, a professora diz que um deles é escolher um local onde as plantas consigam sobreviver com boa claridade ou mesmo a pleno sol. “Ambientes muito escuros não são propícios ao desenvolvimento de nenhuma planta. Propiciar um meio onde as plantas possam enraizar e se ‘alimentar’ também é fundamental, além de regar as espécies de acordo com suas necessidades”, completa Lúcia Borges.

O morador também tem de definir o ambiente onde o jardim vertical será instalado. Varandas, paredes laterais que formam corredores, muros de divisa de terrenos, paredes próximas a piscina ou espaços gourmet são alguns deles.
Para o paisagista Caio Zoza, luminosidade e clima na região influenciam no trabalho - Para o paisagista Caio Zoza, luminosidade e clima na região influenciam no trabalho

 

MONTAGEM No que se refere à escolha da vegetação, ela obedecerá primeiramente ao gosto do dono e às condições de luminosidade, ventos e clima da região em que o jardim vertical será montado. “Daí a montagem do sistema de irrigação, que deve respeitar as exigências de cada espécie disposta”, acrescenta Caio Zoza.

A manutenção das plantas é outro fator que determina a escolha por determinadas espécies e técnicas quando comparadas a outras. Mesmo assim, esse fator não deve descartar de imediato a escolha por um determinado tipo de vegetação “Os quadros verdes estão cada vez mais na moda e devem permanecer, apesar do trabalho para mantê-los. É uma alternativa na decoração de interiores e exteriores que pode ser alterada com facilidade”, exemplifica o paisagista.

Para Droysen Tomich, diante das várias espécies de plantas, tudo vai depender da criatividade e da situação. “Devemos dar preferência a espécies pendentes, pois conseguimos esconder melhor os vasos, tendo, assim, melhor resultado estético. Mas podemos mesclar plantas que não são pendentes, dependendo da situação”, fala.

VARIEDADES Entre as opções a serem empregadas, Caio Zoza cita as begônias, samambaias, ripsális, peperômias, columeias, suculentas, asparagus, bromélias e orquídeas. “São as mais requisitadas nesse tipo de jardim”, indica o paisagista. No entanto, o advento dos sistemas modulares de montagem, com contêineres cada vez maiores, facilita o plantio de outros tipos de vegetação, que podem alcançar portes maiores. “Pode-se, hoje, plantar verticalmente espécies que necessitam de maior quantidade de substrato”, diz Caio Zoza, fazendo referência ao meio orgânico ou misto (químico e orgânico) usado para plantio em condições técnicas de crescimento mais adequado.

 

Versatilidade de instalação

O paisagista Droysen Tomich diz que preço do serviço depende de fatores relacionados ao projeto, como espécies usadas e estrutura - O paisagista Droysen Tomich diz que preço do serviço depende de fatores relacionados ao projeto, como espécies usadas e estrutura

 

A estética e a falta de espaço não são as únicas razões para querer ter um jardim vertical em casa. A alternativa também ajuda a melhorar a qualidade de vida, como afirma o paisagista Caio Zoza. “Eles são a grande, talvez única, alternativa para melhorarmos a qualidade do ar nos grandes centros adensados por inúmeros edifícios”, fala. Com isso, a rigidez da construção também é quebrada, possibilitando melhor climatização do local.

“Atualmente, está crescendo o conceito, introduzido pelo botânico francês Patrick Blanc – considerado o criador dos jardins verticais –, de montá-los nas fachadas e laterais de edifícios em geral, melhorando o clima do local onde ele foi instalado.”

Outro emprego bem-sucedido do recurso é em muros de arrimo, que, em geral, são feios devido à sua característica construtiva. “Sua beleza plástica o torna uma obra de arte viva”, considera Caio. E não são só as plantas pendentes que podem melhorar o aspecto, tanto de muros de arrimo quanto de outros locais em que for colocado o jardim vertical.

O paisagista conta que há tempos a principal característica era que a planta fosse pendente, ou seja, que caísse à medida do seu crescimento, mas, atualmente, pode se optar cada vez mais por espécies aéreas. “Quem não se lembra das famosas samambaias-choronas que enfeitavam a varanda de quase todas as casas? Hoje, raízes tuberosas (que acumulam água e resistem mais à seca) e espécies com baixa manutenção, como as bromélias e orquídeas, também são opções”, indica o paisagista.

Mas, para que o jardim fique sempre bonito e saudável, é preciso tomar alguns cuidados. Além da irrigação, é muito importante ter uma rotina de adubação. “Os adubos foliares são os ideais para esse tipo de jardim. Aplicados depois da irrigação sobre as folhas (quando os folíolos das mesmas estão abertos), é rapidamente absorvido pela planta.”

CUIDADOS
A recomendação de Caio Zoza é que a adubação foliar seja feita a cada 15 dias e a aplicação do óleo de Neem mensalmente. O produto é a essência de uma planta indiana de mesmo nome que atua como um excelente repelente de insetos e fungicida orgânico, conforme o paisagista. “A limpeza de folhas mortas e o controle de pragas e doenças complementam a série de cuidados a serem observados”, completa Caio Zoza.

Em relação à irrigação, para o paisagizsta Droysen Tomich o ideal é que o jardim vertical conte com um sistema automatizado. “Não só para facilitar as regas, mas também para que todos os vasos sejam irrigados igualmente.” E para mantê-los – retirar folhas secas, fazer podas e adubar –, o paisagista aconselha recorrer a um profissional qualificado.

 

Toda atenção às plantas

Mesmo em se tratando de um jardim vertical, Caio Zoza diz que os critérios para elaborar esse projeto obedecem aos mesmos princípios de outros tipos de jardim: “Forma desejada, espectro de cores, épocas de floração das espécies utilizadas e as necessidades biológicas das espécies a serem empregadas em conjunto.”

É necessário, ainda, tomar cuidados com a segurança, já que se trata de um jardim afixado em uma superfície. “Deve-se observar a carga suportada pela parede ou muro, sua impermeabilização, a perfeita fixação dos vasos ou contêineres para que eles não se soltem e provoquem acidentes, e procurar saber se existem tubulações hidráulicas e elétricas”, ressalta Caio Zoza.

Para se certificar de todos esses cuidados, o ideal é contar com a ajuda de um paisagista especializado em jardins verticais. “Ele vai disponibilizar sistemas construtivos mais adequados à realização do sonho de se ter uma parede verde ou uma bela composição de plantas dispostas verticalmente. O projeto será mais harmônico e integrado ao ambiente da casa como um todo.”
O investimento em um jardim vertical é variável, dependendo de seu tamanho, complexidade do local em que irá ser implantado e tipos de plantas a serem utilizadas. “Mas pode se ter um quadro verde a partir de R$ 600 ou um conjunto de vasos de parede com plantas diversas a partir de R$ 500”, diz Caio Zoza.

Como as variáveis que compõem o jardim vertical são muitas, Droysen Tomich fala que é difícil estabelecer um preço padrão. “Vai depender das espécies utilizadas, se vão ser vasos fixados direto na parede, se vão utilizar alguma estrutura para fixação dos vasos e qual é a irrigação utilizada”, observa. De maneira geral, ele fala que o metro quadrado custa, aproximadamente, R$ 1,8 mil, podendo variar para mais ou para menos.

 

Dicas importantes



» As plantas a serem utilizadas dependem das condições do ambiente em que se pretende ter o jardim. Em locais com boa claridade, porém sem sol direto, são muito usadas as tradicionais samambaias

» Um dos cuidados é a perfeita irrigação. A rotina de adubação também é muito importante

» A limpeza de folhas mortas e o controle de pragas e doenças complementam a série de cuidados a serem observados

» Para te um jardim sempre bonito, informe-se sobre as épocas de floração das espécies plantadas
» Preste atenção à carga suportada pela parede ou painel que receberá o jardim vertical

» É essencial que haja uma perfeita fixação dos vasos ou contêineres para que eles não se soltem, provocando acidentes

» O local deve ser impermeabilizado e contar com sistema de irrigação

» É preciso verificar se existem tubulações hidráulicas e elétricas nos locais onde serão afixados os vasos, placas e contêineres

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Silvania - 18 de Julho às 16:37
Adorei a matéria! É verdade que mesmo quem mora num apartamento pode ter um lindo jardim e viver em harmonia com a natureza. Parabéns Lúcia. Você está ótima!

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