Preocupado com a falta de educação financeira do brasileiro, o que leva a cenários de consumo desenfreado e risco para as finanças das famílias e para a economia, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, em dezembro. O objetivo foi criar mecanismos para difundir a educação financeira entre os brasileiros, incluída aí a compra da casa própria.
Reinaldo Domingos, educador financeiro e presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, diz que uma de suas preocupações é o prazo de financiamento. “Com o aumento para 30 anos, gerou-se uma inflação no mercado imobiliário. Os imóveis puderam ser vendidos mais caros, sem afetar o preço da prestação. Em muitos casos, o valor da mensalidade é a única preocupação do brasileiro, relevando o preço final. É uma das características do que chamo de analfabetismo financeiro funcional”, lamenta.
O professor de finanças do Ibmec Leopoldo Grajeda concorda. “Financiar por 30 anos é muito tempo. Nas primeiras prestações, até 90% do valor vai ser para pagar juros. Só uma pequena parte será abatida na dívida. A pessoa paga cinco anos de prestações e, quando faz uma consulta, ainda deve 90% do valor original. Não recomendo financiamentos superiores a 10 ou 15 anos”, revela.
Reinaldo lembra que os juros de financiamento no Brasil ainda são muito altos. Para ter uma ideia, o montante pago em 30 anos de financiamento poderá chegar a três vezes o valor da casa comprada. Poupando para comprar à vista, além de não pagar juros, a pessoa ganhará rendimentos com o dinheiro aplicado e terá condições de pedir descontos quando efetivar a compra.
A prestação ideal deve comprometer no máximo 10% do orçamento familiar. Mas é uma realidade para poucos. No entanto, nunca se deve destinar mais do que 30%. Leopoldo reforça a necessidade de ter uma reserva estratégica para o caso de imprevistos. “Quando colocam as despesas no papel, todos percebem supérfluos e conseguem economizar”, orienta.
Na avaliação do professor, há uma bolha imobiliária no Brasil que deve perdurar até a Copa do Mundo. “O preço do metro quadrado está distorcido. É preciso cuidado ao comprar para não perder o imóvel. A Caixa Econômica Federal já tem mais de 600 mil imóveis retomados”, alerta.
A população brasileira ainda não tem o hábito e a cultura de projetar em seu orçamento essas prestações. É aconselhável que se faça uma simulação em algumas instituições financeiras de crédito habitacional e, conhecendo o valor da prestação, simular o impacto desse valor dentro do orçamento financeiro da família.
ADEQUAÇÃO Antes de assinar o contrato, deve-se sempre submetê-lo à análise de um advogado. “Um contrato de compra de imóvel tem cerca de 70 páginas. Feito pelo banco, tem todas as cláusulas a favor da instituição. O consumidor precisa ler para adequar e equilibrar o contrato”, pondera Leopoldo. A Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH) presta o serviço gratuitamente.
Quem já está devendo deve recomeçar o processo de planejamento. Anotar todas as despesas e ver onde pode cortar gastos. Com o cálculo e ciente de quanto consegue de sobras no orçamento, procurar o banco para renegociar a dívida.