Bares e restaurantes renovam decoração para a Copa do Mundo

A contagem regressiva já começou para o Mundial de futebol que atrairá turistas do mundo todo. De olho nesse público, os estabelecimentos comerciais já estão se preparando e a grande aposta é a decoração. Afinal, beleza é fundamental.

Sendo assim, é preciso ressaltar ou criar atrativos para os espaços, marcando seus pontos fortes. Para que isso ocorra, é necessário uma mudança de mentalidade, com cada um tendo consciência de seu papel, como observa o arquiteto João Carlos Moreira Filho. “Acredito que todo cidadão pode contribuir, cuidando da fachada da casa, seu passeio e reformando seu estabelecimento para torná-lo mais atraente.”

E isso é válido não só para a Copa, mas para antes e, principalmente, depois do Mundial, conforme frisa o arquiteto. “É preciso aproveitar esse impulso de forma sustentável e duradoura. Exemplos não faltam, como as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, que proporcionaram uma ampla transformação urbana na cidade espanhola, melhorando a qualidade de vida da população e tornando-a um dos destinos mais procurados da Europa”, observa João Carlos.

Para que o Brasil possa dar um show de bola no atendimento aos turistas, uma das táticas é conhecer um pouco do perfil de quem vem para cá. Segundo a designer de interiores Maria Thereza Terence, geralmente, essas pessoas são viajadas, acostumadas a um padrão de conforto, acabamento e atendimento elevados.

Apesar de hoje a globalização também estar na arquitetura, isso não quer dizer que o turista só vá consumir nesse tipo de ambiente. “O restaurante que se frequenta aqui pode ter a mesma ‘cara’ ou estilo de um estabelecimento de Berlim ou Tóquio. Mas esse turista viajado, além de querer conforto, segurança e comodidade, quer uma experiência nova, diferente, típica do país que ele visita”, observa Maria Thereza.

No entanto, é preciso muita calma nessa hora. Nada de sair por aí abusando do exotismo, colocando palmeiras e frutas por todos os lados, como alerta João Carlos. “Pode ser uma arquitetura que lembre a alegria do povo brasileiro, com curvas ou com ângulos, com cores ou texturas, que tenha personalidade. Enfim, que desperte emoção. Uma arquitetura sem resquícios provincianos, que seja capaz de se igualar aos projetos internacionais”, indica o arquiteto.

DESPOJADO

Essa mentalidade fez com que os proprietários do Restaurante Mes Amis, no Bairro de Lourdes, Região Sul da capital, investissem, para aliar aspectos internacionais aos locais. De acordo com um dos sócios do estabelecimento, Guilherme Cruz, a intenção era fazer um lugar sofisticado e elegante, que fosse ao mesmo tempo despojado.

Segundo ele, o projeto conseguiu traduzir com perfeição o que queriam. “O Mes Amis tem um restaurante-bar no primeiro andar, com mesas de madeira de demolição, e um restaurante com varanda no segundo, com todo o requinte de um restaurante internacional”, diz Guilherme. A decoração conta, ainda, com fotografias que destacam a arquitetura francesa em Belo Horizonte.

AMBIENTE ACOLHEDOR
Melhorias no estabelecimento visando ao torneio mundial de futebol em 2011 valorizam o imóvel a região

Investir na reformulação dos estabelecimentos comerciais é uma boa alternativa para aumentar o retorno financeiro. Seja por meio do crescimento do fluxo de pessoas que passarão a frequentá-lo, seja pela valorização do imóvel em si e até mesmo da região, que pode ter como referência um tipo de construção.

Foi isso o que ocorreu com o Mes Amis, que, em apenas dois meses, foi eleito o restaurante revelação 2011/2012 pela revista Veja. “Certamente, o auge do retorno do investimento é a grande aceitação do público. O Mes Amis está com uma excelente e selecionada clientela, que aprecia não só a alta gastronomia, como um lugar agradável e acolhedor para um bom papo com os amigos”, comemora Guilherme Cruz.

A designer de interiores Maria Thereza Terence diz que o conjunto desses benefícios acaba, de alguma forma, beneficiando e influenciando os moradores da cidade a querer fazer benfeito, criando um círculo de prosperidade e qualidade. “Todas essas melhorias significam mais negócios, mais empregos, mais investimentos e mais desenvolvimento”, fala.

O arquiteto João Carlos Moreira Filho acredita que o momento pré-Copa signifique uma oportunidade única para tornar a cidade muito mais atrativa para seus habitantes e para os turistas. “O turismo vive do imaginário e é muito importante transmitir essa imagem positiva ao turista. Os ambientes de lazer, compras e alimentação, trabalhados arquitetonicamente para dar emoção, ajudam a fortalecer essa memória agradável e positiva, que faz com que os turistas levem boas recordações e fiquem com vontade de retornar um dia.

Para que isso ocorra, a designer de interiores Carla Fontoura ressalta a importância de os proprietários dos estabelecimentos e a população em geral assumirem a cidade como um projeto coletivo. “Se aceitarmos a cidade como espaço de vida em comum, passaremos a respeitar mais o espaço urbano, contribuindo para sua conservação e, consequentemente, para nossa qualidade de vida.”

A importância da decoração de um estabelecimento comercial também foi destacada pela designer de interiores Ana Karina Chaves, que a avalia como extremamente importante. “Diz muito sobre o que a loja, bar ou restaurante quer passar para o cliente: sofisticação, casualidade, informalidade...”, pontua.

Sua sócia na AKinteriores, a designer Klazina Norden explica que o projeto de interiores estuda o espaço e o público-alvo, “para definir o melhor leiaute, estilo, iluminação, mobiliário, cores; enfim, tudo o que possa melhorar a produtividade, o serviço da empresa e gerar conforto e bem-estar ao cliente”, detalha.

Para que isso ocorra, é importante pensar em uma série de aspectos, que passam pelo conforto e acessibilidade, a fim de que todos os públicos sejam incluídos. “É preciso oferecer ambientes e serviços diferenciados, como banheiros e áreas especiais para idosos e gestantes, serviços de baby care, business centers com internet wireless e carregadores de celulares”, enumera Klazina.

Já para ressaltar os pontos fortes de um estabelecimento, Ana Karina lembra que a fachada é o primeiro contato do cliente com a loja ou o restaurante. “Por isso, deve ser bem projetada e atrativa. As cores, as placas e as vitrines são importantes meios de comunicação da loja com o cliente.”

Carla também chama a atenção para a fachada, seja de um estabelecimento que esteja na rua ou em um shopping. “Em segundo lugar vem o ambiente interno, que deve ser planejado de modo a ressaltar o produto oferecido. Mas tanto a fachada quanto o ambiente interno devem estar em sintonia com o cliente, de modo a levá-lo a se identificar com o serviço que lhe é oferecido”, acrescenta.

LINGUAGEM UNIVERSAL Carla Fontoura defende que a decoração de um estabelecimento deva ser feita a partir de padrões internacionais. “Arquitetura é linguagem e visa uma comunicação imediata, de modo a atingir a finalidade da edificação. Um projeto executado não pode esperar anos ou décadas para ser decifrado e compreendido”, diz a designer de interiores.

Em outras palavras, a profissional explica que, quando é feita uma porta, o usuário deve reconhecer nela a possibilidade de abri-la e de passar pelo vão. “Caso contrário, ela será inútil. Assim, a universalidade da linguagem garante o uso adequado da edificação e não a restringe ao usuário local”, ilustra Carla.

Esse raciocínio é válido conforme o padrão a ser adotado, que vai depender da finalidade da edificação, conforme a designer. “No entanto, isso não exclui a adoção de costumes ou técnicas locais, pois, quem vem de fora, busca o que não encontra em sua terra natal”, completa.

Nesse aspecto, Ana Karina lembra que o designer deve criar ambientes com identidade própria, que valorizem os produtos e serviços oferecidos. “Na realidade, o mercado brasileiro vem crescendo cada vez mais na área da decoração e ganhando espaço no mundo.”

Esse fator, ao contrário do que alguns podem pensar, surte reflexos nas vendas e até mesmo no bem-estar dos consumidores. Duvida? Carla Fontoura analisa essa colocação e também conclui que o raciocino é pertinente. “Para que uma venda se concretize, muitos fatores devem ser satisfeitos: preço acessível, conveniência do produto, desejo de adquirir e outros. Na atualidade, a aquisição de um bem é considerada um direito e um prazer.”

Segundo a designer, esse prazer não se limita à aquisição propriamente. O ambiente e as circunstâncias que envolvem a compra ou o consumo são muito valorizados pelo cliente. “O ambiente de um restaurante faz parte da refeição e essa não se limita ao simples ato de ingerir o alimento”, exemplifica Carla.