Hotéis certificados

Investir em práticas sustentáveis, como aquecimento solar e captação de água pluvial para irrigação de jardins, não onera as diárias. Custos iniciais mais altos são recuperados

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postado em 11/12/2011 22:01 / atualizado em 11/12/2011 23:50 Júnia Leticia /Estado de Minas

Rede Novotel tem as certificações ISO 14001 e Earth Check, que avaliaram o desempenho ambiental nos hotéis - Perspectiva/Divulgação Rede Novotel tem as certificações ISO 14001 e Earth Check, que avaliaram o desempenho ambiental nos hotéis
A tendência do mercado, no que se refere à responsabilidade ambiental no segmento hoteleiro, é de que as práticas sejam incorporadas a um maior número de empreendimentos. Afinal, os consumidores estão cada vez mais levando em consideração ações ecologicamente corretas, fazendo com que as empresas se movimentem para mensurar qual é o real valor desse aspecto para eles.

Tanto é assim que, em 2010, a Accor realizou pesquisa para avaliar as expectativas dos hóspedes sobre o tema desenvolvimento sustentável. “O trabalho foi conduzido pelo instituto francês de pesquisa de mercado Ifop em seis países – Austrália, Brasil, China, França, Alemanha e Reino Unido – e apontou que sete em cada 10 clientes iriam selecionar um hotel ambientalmente responsável, mesmo que mais mal situados e um pouco mais caros”, afirma Jânio Valeriano, diretor de empreendimentos do Grupo Maio/Paranasa.

E a boa notícia é que investir nesse recurso não significa aumento no valor da diária. A arquiteta Estela Netto cita o uso do aquecimento solar, uma excelente fonte de energia com custo bastante viável. “Além disso, grandes aberturas de vidro favorecem a qualidade do espaço do ponto de vista do conforto térmico, e a captação de água pluvial para irrigação de jardins são outras soluções”, exemplifica.

O diretor de operação da Vert Hotéis, Acácio Pinto, confirma que investir em sustentabilidade não onera a diária. “Ao contrário, com a operação mais enxuta o benefício poderá ser revertido ao cliente. Na construção de um hotel sustentável, os custos iniciais aumentam em até 15%. Mas com a economia na operação, o retorno do capital investido é em no máximo cinco anos.”

Jânio Valeriano Alves, diretor do Grupo Maia/Paranasa, diz que hotéis da rede Ibis seguem diretrizes da carta Ambiental lançada há 11 anos - Cristina Horta/EM/D.A.Press Jânio Valeriano Alves, diretor do Grupo Maia/Paranasa, diz que hotéis da rede Ibis seguem diretrizes da carta Ambiental lançada há 11 anos
Para comprovar isso, Jânio diz que as redes Ibis e Novotel têm, respectivamente, as certificações ISO 14001 e Earth Check, que avaliaram o desempenho ambiental dos hotéis. “Desde que iniciada a Earth Check na rede Novotel, em 2008, quatro hotéis foram certificados no Brasil e os valores das diárias permanecem equivalentes aos demais hotéis. O mesmo ocorre com a rede Ibis.”

Opinião diferente tem a arquiteta Roziane Faleiro. De acordo com ela, ainda há muito o que avançar. “Estamos no caminho, mas investir em sustentabilidade ainda é caro. Existem diversos produtos novos confeccionados a partir de reaproveitamento de materiais, mas que, comparados com outros produtos industrializados, têm um custo final que pode inviabilizar a sua utilização.”

Arquiteta Roziane Faleiro diz que em breve quem não for Arquiteta Roziane Faleiro diz que em breve quem não for "verde" estará fora dos padrões
No entanto, segundo a arquiteta, é tudo uma questão de tempo para que a ideia seja difundida entre os empresários do setor. “O mundo está caminhando para essa mudança de pensamento e postura. Em breve, quem não for ‘verde’ estará fora dos padrões”, ressalta Roziane.

A arquiteta Patrícia Guerra observa que, atualmente, vários setores já trabalham no sentido de desenvolver produtos e técnicas sustentáveis. “Isso requer uma decisão de investimento, pois, na prática, os custos são relativamente maiores. É necessário que haja uma difusão disso para que os produtos tenham competitividade no mercado”, reitera.

 

Jânio diz que já há interesse do setor nesse sentido. Um exemplo desse movimento é o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb). “Há cerca de um ano, o Fohb vem desenvolvendo um trabalho bastante competente junto aos representantes das principais operadoras hoteleiras do setor, para implantar e difundir as melhores práticas de sustentabilidade”, informa.

FÓRUNS Diretora-executiva do Fohb, Ana Maria Biselli conta que o fórum é composto por oito grupos de trabalho, dos quais fazem parte representantes das redes associadas, que discutem, periodicamente, questões relativas ao setor hoteleiro. “Dentro de um deles (recursos humanos e responsabilidade socioambiental), foi formado, este ano, um comitê voltado exclusivamente para o fomento e discussão de projetos na área socioambiental”, diz.

De acordo com Ana Maria, o tema é de suma importância para os empresários do setor. “Como acreditamos que a sustentabilidade é uma das principais bases para o desenvolvimento da atividade hoteleira, buscamos sempre intensificar os debates sobre o assunto e refletir sobre práticas e soluções aplicáveis aos hotéis”, justifica. 

 

Preservação é fundamental

 

O hotel sustentável tem a premissa de priorizar a preservação do meio ambiente, desde o processo de planejamento – envolvendo a arquitetura, o meio onde será implantado, a construção –, até o processo operacional. Essa consciência está deixando de ser privilégio de destinos de ecoturismo e se espalhando por grandes cidades. É uma nova postura que pode ser assumida em todos os momentos da vida. Para o turismo de negócios, as grandes empresas têm preferido optar por hotéis que se comprometem com a preservação do meio ambiente, consumo sustentável, bom aproveitamento de recursos naturais e um programa eficiente de reciclagem. Sistema de captação de água de chuva, piso permeável, paisagismo com plantas nativas da região, máximo aproveitamento de luz natural, sistema de descarga com economizador de água, reaproveitamento da água do banho para descarga, sombreamento da fachada do prédio para menor incidência de calor, além do uso de madeira 100% certificada, são alguns dos itens e sistemas que compõem um hotel sustentável. Por isso, cresce o número de empreendimentos que procuram aliar conforto com o respeito ao meio ambiente, adotando práticas sustentáveis. Empresas sustentáveis procuram parceiros sustentáveis.

 

Soluções ecológicas

 

Apesar de já estar disseminada a importância da responsabilidade social na construção civil, na prática é preciso entender o que faz com que um hotel seja sustentável. A arquiteta Estela Netto conta que, para que possa ter essa designação, a edificação precisa ter alguns itens. “Captação de água pluvial e aquecimento solar são alguns deles”, aponta.

Há, ainda, itens como bacia sanitária que tem caixa acoplada com acionador de descarga e opção de litragem, e janelas e portas que permitem grande entrada de iluminação e ventilação naturais. “A utilização de mão de obra local ou material desenvolvido por comunidades do entorno também auxiliarão em um resultado ambientalmente viável”, acrescenta.

Entre os muitos aspectos a serem considerados, Acácio Pinto diz que um hotel sustentável tem de ter suas fachadas projetadas para reduzir a absorção de calor. “Seja pela pintura em tons claros, seja pelo estudo da utilização de brises, entre outros, lembrando sempre de conjugar esses elementos ao conjunto arquitetônico e não colocá-los como anexo pós-projeto.”

Outro ponto que merece destaque é o sistema de gerenciamento do entulho da obra, que deve ser pensado de modo a gerar o mínimo de resíduos possível. O processo também deve apontar a destinação para o que não for imediatamente aproveitado, conforme afirma o diretor de operações da Vert Hotéis.

Um dos vilões do meio ambiente em hotéis, o ar-condicionado merece atenção especial. Como não é possível ficar sem ele, Acácio indica o uso de equipamentos mais eficazes. “O sistema de ar condicionado deve ser o mais eficiente possível energeticamente, de preferência do tipo central e split, com saída de ar refrigerado pelo piso”, diz.

Na linha da sustentabilidade, nem mesmo a decoração fica de fora. Para desenvolvê-la, é preciso utilizar materiais alternativos, “como cerâmicas e porcelanatos reciclados, fibra natural, bambu, couro ecológico, pneus reciclados, ladrilhos hidráulicos, pastilhas de coco, fibras de garrafas PET, aço inoxidável e borracha reciclada”, cita o diretor de operações.

 

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