Plantações verticais e indoor são comuns pelo mundo
Em outros países já há experiências de cultivo de hortaliças no meio de centros urbanos. Há desde hortas do interior das edificações até canteiros no teto delas. No Brasil, experiência é incipiente
Empregado faz a colheita dentro do escritório, em Tóquio: problema é o gasto de energia
No Reino Unido, Japão e América do Norte alguns exemplos aliam tecnologia a agricultura e trazem soluções inovadoras para o aproveitamento de pequenos espaços. Entre as ideias listadas pelo site norte-americano Mashable (www.mashable.com), está a da empresa nova-iorquina The Vertical Farm, idealizada pelo professor Dickson Despommier, que desafia o produtor a plantar verdadeiros prédios verdes no coração de grandes cidades, utilizando esquemas de agricultura vertical ou indoor, no interior dos edifícios.
A ideia central é que com esse tipo de plantação haja redução dos custos de transporte, trazendo a fazenda para dentro da cidade. O projeto propõe um novo jeito de produzir alimentos para acompanhar o crescimento populacional do mundo com o reaproveitamento dos próprios resíduos dos frequentadores do edifício para cultivar novos alimentos. O único problema apontado pelos críticos seria o alto custo com água e energia para que as plantações fossem mantidas, o que inviabilizaria a alternativa, caso comparada às fazendas horizontais tradicionais, bem mais baratas.
Ainda de acordo com o site, se implementada com sucesso, a ação oferece a promessa de renovação urbana, produção sustentável de uma alimentação segura e variada e uma eventual reparação de ecossistemas que foram sacrificados para a agricultura horizontal. De acordo com informações divulgadas pela Vertical Farm, caso o ser humano não cultive parte de sua comida em pequenos espaços, como dentro de edifícios, em 50 anos, 3 bilhões de pessoas devem passar fome.
Outro exemplo é o da empresa japonesa Pasona O2, que possui plantações orgânicas high-tech de até 1 mil metros quadrados. Instalada na antiga sede de um grande banco, no Centro de Tóquio, a plantação foi construída para dar condições perfeitas aos tomates, alfaces, morangos e outros alimentos cultivados no local. Artifícios como spray de fertilizantes ou de dióxido de carbono, controle de temperatura computadorizado e luz artificial são utilizados para auxiliar o crescimento saudável dos alimentos. O projeto coordenado por jovens agricultores e aspirantes também tem, entre as desvantagens, o alto consumo de energia.
De acordo com a engenheira-agrônoma Flávia Clemente, da Embrapa, parte da tecnologia aplicada em experiências internacionais é encontrada no Brasil, mas ela garante que por aqui o exemplo não se repetiria, nem nos próximos anos, porque o país tem condições e espaços suficientes para o plantio. “Esta ainda é uma realidade distante do Brasil. Isso ocorre em maior escala no Japão, por exemplo, porque lá eles vivem em um arquipélago e ficam sem espaço operacional para o plantio”, diz. Para ela, caso seja necessário investir em tecnologia desse tipo para a produção de alimentos, as empresas privadas, ligadas ao ramo de alimentação, serão as primeiras a investir nesses métodos semelhantes aos do Japão e Estados Unidos.
Atividade de futuro
Em Nova York há um projeto que desenvolve o cultivo de vegetais no topo dos edifícios
Para a pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), unidade regional da Zona da Mata, Maria Aparecida Nogueira Sediyama, o plantio em pequenos espaços vem despertando interesse especialmente nos países mais populosos e com pequena extensão territorial, tanto pela falta de espaço e de mão de obra no campo, quanto pela necessidade de incrementar a oferta de alimentos e diminuir a dependência externa.
No Brasil, ela revela que a atividade ainda é recente, mas que se propõe a criação de fazendas urbanas utilizando a técnica da hidroponia na frente de prédios, terraços, sacadas e varandas que contam com espaço suficiente para montar uma horta, especialmente se fixar os recipientes em estruturas na posição vertical. Por aqui, segundo Maria Aparecida, a maior parte do cultivo de hortaliças é em solo, feito nos quintais de casas, escolas, imóveis abandonados e outros. Hortas comunitárias, conduzidas por grupos de pessoas que dividem o trabalho, as despesas e os produtos colhidos são exemplos de práticas bem-sucedidas.
Enquanto a tecnologia de fazendas verticais se desenvolve, um movimento mundial entende que é preciso cultivar mais perto do consumidor e sem agrotóxicos. “A condução de uma horta é uma atividade muito gratificante, pelos benefícios que traz às pessoas que a praticam, pela economia no orçamento doméstico e pelos produtos frescos e saudáveis para consumo próprio”, afirma a pesquisadora.
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