Não é preciso muito espaço para criar cantinhos com hortas
Produção em pequenos locais é vista como alternativa para pessoas que querem cultivar pelo menos parte do próprio alimento. No mercado há de tecnologias simples a sofisticadas
postado em 14/05/2012 10:59
/ atualizado em 14/05/2012 11:06
Carolina Mansur
Que tal ter uma horta na varanda? Ou plantar alfaces dentro do escritório? Ou ainda cultivar tomates no alto dos prédios? O aproveitamento de áreas reduzidas na produção de alimentos é uma tendência sem volta. No Brasil, as hortas urbanas ainda usam, na maioria das vezes, os quintais convencionais. E, em busca de uma vida saudável, muitos estão retirando o cimento para retornar com o verde das hortaliças. Em outros países, como a falta de espaço representa um problema maior, tecnologias de ponta ajudam a criar ambientes propícios para formar plantações em locais inusitados.
Longe do estilo de vida agrícola, o homem da cidade, que trocou as plantas do quintal pelos pisos cimentados, parece voltar atrás da decisão. Agora, no caminho inverso, eles abrem espaços para o verde. Isso porque em qualquer cantinho é possível cultivar e colher o próprio alimento. Hoje, em busca de qualidade de vida, mas também nutricional, as pessoas tentam conciliar a rotina corrida com os bons hábitos alimentares. E essa dieta inclui, obrigatoriamente, as hortaliças, ricas em sais minerais, fibras e vitaminas. Entre as alternativas está a construção de hortas pensadas para pequenos espaços como quintais, sacadas, varandas e corredores. No resto do mundo, o plantio em pequenos espaços utiliza tecnologias inovadoras, que ainda não existem no Brasil. No entanto, elas já se apresentam como alternativas à possível escassez de alimentos, prevista por pesquisadores para os próximos anos como consequência do aumento da população e da renda, que estimula o consumo.
Por aqui, as plantações construídas em locais limitados são feitas basicamente no ambiente doméstico e como benefício oferecem fácil acesso a alimentos mais saudáveis, livres de agrotóxicos e que têm qualidade atestada pelo próprio produtor: que no fim do processo se torna consumidor. Além disso, as hortas caseiras trazem perfume e alegria ao ambiente doméstico e a possibilidade da colheita do tempero preferido bem perto da cozinha, durante um jantar com amigos, e também de um pé de alface e alguns tomates para o preparo da salada.
As possibilidades de plantio são de muitas variedades. Entre elas, estão a salsinha, cebolinha, alecrim, manjericão e também alfaces roxas, lisas e crespas, couve, tomate cereja, morangos e outros alimentos. Em Belo Horizonte, a bióloga Márcia Solange Marques Fantini e a amiga e nutricionista Carla Augusta Parreira se profissionalizaram e transformaram a demanda em negócio. A empresa Dona Horta, localizada no Bairro Dona Clara, comercializa há pouco mais de um ano a estrutura para hortas feitas sob medida para apartamentos e pequenos espaços.
AO ALCANCE DAS MÃOS
Márcia Fantini e Solange Parreira se especializaram em estruturas para hortas reduzidas
O empreendimento – pioneiro em Minas Gerais segundo elas –, atende um público exigente que está em busca de qualidade de vida. Além de uma estrutura pensada para espaços como quintais, que é sempre feita de acordo com a necessidade de cada cliente, elas viabilizam a construção de jardins em estruturas instaladas nas paredes. Tudo para garantir que os vegetais e hortaliças estejam ao alcance das mãos de qualquer morador da capital. “Pensamos em proporcionar uma alimentação mais saudável, com produtos frescos e plantados dentro de casa.” De acordo com elas, o plantio de hortas suspensas é ideal para quem tem pequenos espaços, mas quer torná-los funcionais com cheiros e sabores que melhoram a vida de quem cultiva. “A horta do futuro é esta: perto de casa, de onde as pessoas vivem. Ela se integra não só à alimentação, mas também à qualidade de vida”, conta Márcia.
A estrutura utilizada pelas empresárias para o plantio das mudas, feita com tubos PVC, é uma releitura de outra sugerida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que tem um forte trabalho de incentivo ao plantio em pequenos espaços. Segundo a engenheira-agrônoma e supervisora da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças, Flávia Clemente, a iniciativa é bem recebida e transformada em negócios, como é o caso da Dona Horta, porque as pessoas, mais que nunca, estão preocupadas em melhorar a qualidade alimentar e de vida. “Trabalhamos fugindo da linha de fast food, ensinando que qualquer espaço é suficiente para que a pessoa produza comida saudável, ou pelo menos parte de sua alimentação”, diz. A engenheira ainda trabalha com oficinas ministradas pela Embrapa que têm o objetivo de ensinar as pessoas a plantar em estruturas construídas, mas também recicladas, como garrafas PET, pneus, latas de tintas e outros recipientes reaproveitados.
Terapia para todas as idades
Cuidar de uma horta também pode ser uma forma de terapia. “É possível manter o contato com a natureza, mexer na terra, plantar, cuidar e colher. Além de ser uma tarefa com alto poder de liberar o estresse, é uma alternativa para incluir alimentos saudáveis e ricos em nutrientes na dieta das crianças”, lembra Carla Parreira, da Dona Horta. Ela comenta ainda o interesse em conscientizar e envolver meninas e meninos no cultivo das hortas. “Se no futuro há a possibilidade de faltar alimentos, é interessante que as pessoas produzam alguns alimentos. Mas para isso nós precisamos inserir essa cultura na vida das crianças, que depois a levarão para dentro de suas casas e para seus pais.”
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