O sonho da casa própria pode se tornar um pesadelo para o mutuário que não ficar atento aos contratos do programa Minha casa, minha vida. A compra do imóvel na planta precisa ser feita com cautela, alertam os especialistas e advogados da área imobiliária. Muitos mutuários estão comprando o imóvel com os benefícios do programa na planta, pagam diversas parcelas durante a obra, mas são surpreendidos na hora de fazer o financiamento. Eles acabam descobrindo que não vão poder usufruir das vantagens do Minha casa, pois o preço do bem se valorizou durante a construção e superou o limite estipulado pelas regras do programa federal.
“A compra do imóvel na planta não existe. É apenas a assinatura de uma promessa de compra e venda”, alerta Silvio Saldanha, presidente da Associação dos Mutuários e Moradores de Minas Gerais (AMMMG). O problema ocorre quando há valorização do imóvel ao longo do tempo e o imóvel passa a superar o limite do Minha casa, minha vida. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, esse valor hoje é de R$ 150 mil. “O custo do empréstimo fora do programa muitas vezes dobra, pois a principal vantagem é a taxa de juros mais baixa”, informa Saldanha. Os juros pagos pelo mutuário dentro do programa giram em torno de 4,5% a 5% ao ano. “Nos contratos tradicionais, é o dobro, em torno de 8%”, enfatiza Saldanha.
O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), André de Sousa Lima, lembra que para evitar problemas o repasse do financiamento deve ser feito para a Caixa Econômica Federal logo no início da compra do imóvel. “Muitas vezes, o perfil do mutuário se encaixa no programa quando ele vai fazer a análise. Mas, depois de um ano, isso pode não acontecer. O imóvel pode se valorizar e o salário dele subir”, diz.
Foi o que ocorreu com a funcionária pública Ana Fabrícia Lima Xavier. Ela comprou em 2009 um imóvel na planta com a construtora Dominus dentro do programa Minha casa, minha vida. Na época, ela acertou com a construtora de pagar R$ 125 mil pelo apartamento de dois quartos no Bairro Santa Mônica e deu de entrada cerca de R$ 10 mil. Em outubro de 2010, foi chamada para assinar o contrato e o valor do imóvel já estava em R$ 132,9 mil, segundo Ana. “Ou assinava ou ficava sem o apartamento. E já tinha dado o valor de entrada”, diz.
Em janeiro deste ano, a funcionária pública fechou o contrato e ficou assustada com o valor da prestação: R$ 1,29 mil, sendo que o preço acertado tinha sido de R$ 560. “A mensalidade que estão cobrando é quase o valor total do meu salário. Não tenho como pagar, pois tenho uma filha e outros gastos”, diz. O salário de Ana também subiu no período: passou de R$ 1 mil para R$ 1,5 mil. O impasse está sendo tratado na Justiça. A construtora Dominus alegou que sempre se relacionou com seus clientes dentro do que rege a lei e que todos os índices contratuais estão previstos na legislação vigente.
JustiçaO advogado Marcelo Tapai, especializado em direito imobiliário, tem cerca de mil ações contra construtoras envolvendo imóveis na planta. “O indicado é que o mutuário vá à Caixa e se informe sobre a possibilidade de fazer o financiamento dentro do programa antes de fechar o negócio. Muitas vezes, a construtora põe uma placa na porta, fala que o imóvel está dentro do programa, mas não está”, diz. Para evitar esse tipo de problema, a Caixa informa que disponibiliza aos seus clientes a chance de ter o financiamento definitivo já a partir do lançamento do empreendimento. Segundo a Caixa, os clientes podem firmar o contrato direto com a Caixa, no lugar de fazer o compromisso de compra e venda com a construtora.