Morar em uma residência eficiente não exige apenas uma reserva extra de dinheiro, também é necessário aderir ao estilo de vida sustentável e ficar atento à manutenção dos sistemas. Caso contrário, o investimento não valerá à pena. Foi assim com a professora universitária Carmen Tacca, 60 anos. No projeto da casa dela foram incluídas placas de aquecimento solar, captação da água de chuva e reutilização da água do chuveiro para a irrigação do jardim.
Esta última, segundo Carmen, não funcionou. A professora acredita que pode ter sido erro de projeto ou de execução. “Talvez o tanque de armazenamento esteja em uma altura errada. Também foi falta de paciência minha e falha da arquiteta não ter acompanhado. O problema é que tive um custo com isso”, lamenta. Carmen ainda reconhece que, por ter morado em apartamento antes, não tinha familiaridade para lidar com sistemas sustentáveis.
No extremo oposto está o biólogo e estudante de arquitetura Alexandre Benso, 31 anos. Há 10 anos, ele conheceu a permacultura — abordagem que pretende ser ambientalmente sustentável, socialmente justa e financeiramente viável. “São sistemas de autoconstrução que não requerem conhecimento específico — qualquer um pode construir a própria casa”, explica Alexandre. Quando comprou a propriedade, em 2005, decidiu que aplicaria as técnicas de bioconstrução. “O terreno já tinha uma casa convencional. Então, fiz reformas e ampliações durante oito meses de acordo com os princípios da permacultura.” Da fundação à tinta das paredes, tudo é sustentável.
Para começar, os pilares da casa são toras de árvores que caíram naturalmente no Rio Paranoá. O revestimento das paredes é feito com terra, usando técnicas como o adobe, o superadobe e tijolos de madeira. O chão é uma mistura de cimento queimado e decorado com rodelas de madeira. Bambus substituíram grades, divisórias de ambientes e corrimões. Para dar o acabamento, foi usada uma tinta a base de terra, goma de soda cáustica e polvilho. Impressionam as tonalidades: rosa, amarelo, marrom.
Do lado de fora, o teto verde é outra surpresa. Fresquinho e seguro, costuma virar espaço de camping para os amigos de Alessandro. Além disso, a residência capta a água da chuva em um reservatório com capacidade para 25 mil litros, possui banheiro seco (usa serragem em vez de água) e faz saneamento ecológico com o sistema da fossa de bananeiras (evapotranspiração). “Uma casa de permacultura não é uma estrutura mal-acabada; dá para ter sofisticação”, aponta o biólogo, que, incansável, ainda planeja colocar placas fotovoltaicas e cataventos para produção de energia eólica.
Segundo o permacultor e bioconstrutor Cláudio Jacintho, uma casa com esse sistema é até 30% mais barata do que uma convencional. “O custo padrão do metro quadrado de uma residência convencional é R$1.100, enquanto o daquela feita com permacultura é entre R$ 800 e R$ 900”, afirma.