Com sensibilidade e dedicação, as mulheres ganham cada vez mais espaço no mercado imobiliário. Apesar de ainda longe de ser a maioria, elas estão espalhadas por todas as áreas. Representantes do sexo feminino trabalham como corretoras, engenheiras, arquitetas, empresárias e também se sentem à vontade para colocar a mão na massa no canteiro de obras. Por onde passam, as mulheres provam ter competência e comprometimento para alcançar o sucesso.
“Estamos aqui para somar e não para fazer concorrência desleal”, destaca Mirian Dayrell, que comanda a imobiliária que leva o seu nome, a Mirian Dayrell Imóveis. “Queremos garantir o nosso lugar.” Quando deixou de ser advogada para se tornar corretora, há 20 anos, a empresária viu a oportunidade de se lançar em um mercado pouco explorado pelo sexo feminino, principalmente em Belo Horizonte. Mirian acredita que o fato de ser mulher foi um diferencial muito positivo para ela e ainda hoje pode ser interessante. “A palavra final é da mulher na hora de escolher o imóvel. Por ser mais sensível, a corretora pode oferecer um tratamento diferenciado”, opina.
Depois de ligar para mais de 40 imobiliárias à procura de imóvel para comprar, e de não ficar satisfeita com o atendimento, Elaine Takahashi decidiu entrar de vez para o mercado imobiliário. A antiga diretora de uma multinacional queria apenas conversar com o corretor, em vez de olhar tudo no site. “Comecei a lidar com os meus clientes da forma como gostaria de ser tratada. Na minha opinião, o atendimento precisa ser personalizado e a conversa, pessoalmente”, explica. Já no primeiro ano, Elaine ganhou o troféu de segunda melhor vendedora entre 350 corretores da rede onde trabalhava. Foram mais de 40 imóveis comercializados (uma média de quatro por mês), o que movimentou mais de R$ 13 milhões.
Hoje dona da imobiliária RE/MAX Mix, a empresária percebe que levou vantagem por ser mulher. “Os homens têm visão do todo, enquanto as mulheres são mais detalhistas. Elas não pensam somente na planta do apartamento, conseguem visualizar convivência familiar, conforto, segurança e praticidade. Imaginam até o imóvel decorado”, destaca. Na opinião de Elaine, a mulher nunca vai tentar vender um imóvel distante da vontade do cliente e isso vai tornar mais fácil a escolha dele. A dona da RE/MAX Mix também ressalta que a mulher não desiste tão facilmente do cliente, porque tem mais paciência. “Já atendi uma investidora que levou meses para se decidir. Ligava, mandava e-mail, sempre mantinha contato. Assim, consegui criar um vínculo maior de confiança”, conta. A persistência lhe rendeu a venda de três imóveis.
Pelo menos 30% dos 25 mil corretores, que atuam em Minas Gerais, são mulheres. E, em geral, elas conseguem ser bem-sucedidas. “Para ter sucesso, o segredo é amar o que se faz e a mulher mostra isso. É comprometida e mais dedicada”, opina o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-Minas), Paulo Tavares. Ele pensa que não vai demorar para o número de mulheres ultrapassar o de homens no mercado imobiliário.
Prestes a se lançar como empresária, Gisele Gonçalves quer trabalhar com uma equipe predominantemente feminina. “O ganho maior é para o cliente. A mulher consegue ter um resultado melhor por causa da sensibilidade e, como dá mais abertura para conversa, pergunta sobre a família do cliente, seus hábitos e interesses e é a partir dessas informações que o corretor busca o imóvel certo”, diz. Na época em que trabalhava como corretora, Gisele já observava que muitos clientes preferiam ser atendidos por mulheres. A aposta dela para alavancar o negócio é valorizar as características femininas.
CMI Mulher
A empresária Mirian Dayrell nunca teve problema para vender, difícil mesmo foi se firmar como empresária. “Na hora de resolver problemas, o homem se sentia mais confortável em conversar com outro homem, mas isso foi superado com traquilidade. Os nossos colegas hoje nos veem com simpatia”, afirma a presidente da CMI Mulher, grupo da Câmara do Mercado Imobiliário criado há oito anos para incentivar a participação feminina nas entidades de classe. Este ano, o projeto deverá voltar com força total, promovendo reuniões mensais e palestras com mulheres de destaque.
Única mulher entre os conselheiros da CMI, a diretora da Céu-Lar Netimóveis Adriana Magalhães entende que o desafio de agora em diante é resgatar a feminilidade. Para ela, não adianta mais se masculinizar para ter valor, como fez quando começou, há 23 anos. A mulher deve se impor com mais naturalidade. “Tive que me vestir de uma máscara masculina para me posicionar melhor, mas me cansei disso. Agora, quero ser do meu jeito, trabalhar de vestido e assumir uma gestão mais feminina”, declara. Adriana ainda faz um alerta: “Cuidado para não perder a doçura, porque isso é o que tem valor.”
Lugar de mulher é no canteiro de obras Pioneira em apostar na mão de obra feminina, a Caparaó começou com oito contratadas e hoje já são 140 espalhadas por todas as construções. O desafio agora é treinar encarregadas A dificuldade de contratação levou as empresas de construção civil a enxergar a mão de obra feminina. Na falta de homens, por que não apostar nas mulheres que estavam de olho em uma das vagas? As trabalhadoras entraram nesse mercado para preencher uma lacuna, mas logo provaram que têm talento de sobra. “Percebemos que elas são muito melhores que os homens na parte de acabamento pela paciência, capricho e atenção aos detalhe. Elas gostam de fazer tudo benfeito”, revela o gerente de Recursos Humanos (RH) da Caparaó, Silvano Aragão.
A construtura mineira foi uma das primeiras do Brasil a colocar mulheres no canteiro de obras. Em 2007, Aragão criou o projeto “Elas na obra”. O gerente de RH da Caparaó lembra que propôs a todas as donas de casa que foram alunas do Senai para fazer um teste como ajudante de pedreiro. Apenas oito toparam o desafio, mas hoje já são mais de 140 espalhadas por todas as obras. “As mulheres têm perfil para serviço quase artesanal e, como trabalhamos com produtos de R$ 1 milhão a 11 milhões, precisamos de atenção ao detalhe do detalhe para entregar o máximo de qualidade ao cliente”, pontua Aragão, que também é presidente do Grupo de Intercâmbio da Construção Civil em Recursos Humanos (GICC RH) do do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
Na visão da diretora-financeira da Construtora Valadares Gontijo, Flávia Lacerda Valadares Gontijo, empregar mulheres não é uma tendência única e exclusivamente do Brasil. “O setor ainda é predominantemente masculino, voltado para o serviço mais pesado. Por outro lado, o processo de construção está sendo industrializado. Abre-se, portanto, uma possibilidade maior de contratação de mulheres porque não se exige tanta força física”, observa. No cargo que exerce hoje, a engenheira civil sente que a diferença entre homem e mulher não pesa, mas ela diz que no canteiro de obras seria preciso ter pulso mais firme para ganhar o respeito do sexo masculino.
Assim como Flávia, a engenheira civil Olívia Medeiros, gerente técnica da Even Construtora e Incorporadora em Belo Horizonte, veio de uma geração já acostumada à presença feminina no setor e ela garante que nunca se sentiu constrangida. “O único preconceito que pode existir é a falta de preparo, mas isso podemos reverter. A mulher estuda mais, tem dedicação e paciência”, opina. Em relação ao cargo de liderança, Olívia acredita que não adiantaria nada ter a oportunidade se não estivesse preparada para assumir a posição. O exemplo dela já serviu de inspiração para muitas amigas que hoje fazem engenharia.
Silvano Aragão analisa ainda que, depois da Copa do Mundo, o setor de construção civil tenderá a retrair. “Até 2014, muitas mulheres vão entrar no mercado, mas depois o número de contratações deverá diminuir. Ficará quem tiver competência”, alerta. Por isso, ele sugere que as trabalhadoras adquiram experiência para garantir a vaga. Aragão diz que o desafio agora é treinar lideranças femininas para que seja possível transformar pedreiras em encarregadas de obra.