Muito além da Copa

Negócios imobiliários na Copa do Mundo podem ser oportunidade para muitos anos

Belo Horizonte será capaz de usufruir dessa cadeia de hotéis? Os clientes que investiram nesse negócio terão retorno do investimento? A renda será compatível?

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A moda agora é falar da locação de imóveis para a Copa, da liberação dos hotéis para a Copa, do trânsito durante a Copa, dos aeroportos e do caos previsto para o país durante a Copa. Sabemos que, muito mais do que sediar o campeonato mundial de futebol durante um mês, a falta de infraestrutura e os absurdos da política do país podem gerar uma verdadeira comoção. No entanto, vamos nos ater a fatos mais corriqueiros: ao incremento da rede hoteleira de BH e às oportunidades e riscos das locações para temporada nesse período.

Quando foi feito o planejamento para sediar a Copa em Belo Horizonte, a prefeitura estabeleceu um benefício legal para estimular a construção de hotéis a fim de atender a reconhecida insuficiência de leitos na capital. O maior benefício foi aumentar o coeficiente construtivo e o resultado: dezenas de empreendimentos foram autorizados pela PBH. Está sendo amplamente divulgado que, vencido o prazo, algumas obras estão atrasadas, outras não foram vistoriadas ainda, mas muitos hotéis já estão prontos e alguns até operando. As perguntas que não querem calar são: Belo Horizonte será capaz de usufruir dessa cadeia de hotéis? Os clientes que investiram nesse negócio terão retorno do investimento? A renda será compatível? O projeto foi ousado demais? Haverá superoferta depois que as luzes dos estádios se apagarem?

A verticalização em BH é necessária, porque somos uma capital com pequena área territorial (menor que Betim, por exemplo), e muitos bairros ainda precisam de revitalização. É um movimento natural dos grandes centros urbanos e, para ser positivo, deve ser bem elaborado. O economista americano e professor de Havard Edward Glaeser, autor do bestseller Os centros urbanos: a maior invenção da humanidade, defende uma tese controversa que demonstra que “não há melhor lugar de viver do que na grande cidade”. Ele afirma que o ideal é a vida em grandes centros urbanos, especialmente nas metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes, pois é ali que se desenvolvem a riqueza, a criatividade e a inovação. Portanto, uma coisa é certa: para vivermos em cidades, o governo tem de intervir em segurança pública, transporte coletivo, crescimento sustentável e inteligente etc.

Além disso, para cada ação da iniciativa privada há um elo inquebrável com infraestrutura urbana e políticas públicas eficazes. No caso dos hotéis, a proposta para os empreendedores era: invistam que vocês terão lucro; a indústria da construção civil precisa alimentar o ciclo virtuoso de empregos e novos negócios. Agora, eles estão sendo finalizados e, para essa rede funcionar, é fundamental investir em aeroportos, rodovias e transporte público. E outro desafio é o estimulo à industria do turismo.

Tradicionalmente, o turismo de negócios é vocação em Belo Horizonte, especialmente por sua posição geográfica estratégica. Agora, com mais espaços de convenções nos hotéis, tende a ser incrementado. Mas a cidade precisa de locais para grandes eventos compatíveis com as possibilidades de geração de negócios. Há 10 anos foi lançado um projeto de um grande centro de convenções na Avenida Cristiano Machado que não saiu do papel. Não se ouve falar do plano de expansão do Expominas para 2018. O governo precisa se mexer, senão não conseguimos competir com outras capitais, especialmente São Paulo .

O apelo das cidades históricas também representa forte potencial, a nossa gastronomia e a indústria da moda sempre foram referência e podem ser exploradas. Além disso, com a grande visibilidade nacional e internacional do Inhotim e de outros centros culturais na capital, os visitantes têm opções de lazer a explorar. Os turistas que vierem agora precisam ser bem recebidos e ainda querer voltar, pois só um evento como o da Copa do Mundo não vai ser colheita suficiente para quem plantou tantas sementes...

Outra oportunidade para atender os turistas é alugar imóveis mobiliados. A demanda ainda é fraca, pois as pessoas tendem a deixar tudo para a última hora, e Belo Horizonte não é polo turístico (ainda) e não tem tradição em disponibilizar imóveis mobiliados para locação temporária, mas algumas pessoas estão dispondo de suas residências para obter uma renda extra.

Um contrato de locação para temporada é o instrumento apropriado para o negócio. Tem previsão legal no Brasil e, portanto, regras complexas a serem contratadas. O proprietário pode exigir o pagamento antecipado do valor integral do aluguel e uma garantia para assegurar a reposição do imóvel e seus pertences ao estado original, caso ocorra alguma avaria. Por isso, é importante buscar uma assessoria para elaborar um contrato e uma vistoria com descrição detalhada do estado de conservação de todo o imóvel, móveis e utensílios, preferencialmente com fotos.

Em cidades com expertise nesse tipo de locação, os aluguéis podem girar em torno de três a cinco vezes o valor de um aluguel tradicional. Porém, temos visto que os valores para o período da Copa estão sem nenhuma referência. Talvez se acomodem no decorrer do próximo mês, sempre colocando na balança o risco do negócio, pois o fato do locatário residir em outra cidade ou país pode inviabilizar uma demanda judicial no caso de algum problema. Como mineiro é desconfiado, todo cuidado é pouco. A bola está lançada, espera-se que façamos muitos gols com ela, na Copa e além dela.

Adriana Magalhães é diretora da céu-Lar Imóveis, diretora da Rede Netimóveis, conselheira da Câmara do Mercado Imobiliário e vice-presidente da CMI-Secovi Mulher

Tags: oportunidade

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