Estudantes criam página na internet para destacar trabalho de mulheres na arquitetura
Além de homenagear a contribuição das mulheres na arquitetura, o 'Arquitetas Invisíveis' surgiu com o objetivo de levantar a discussão: por que elas ainda são invisíveis na profissão?
Um grupo de cinco alunas da Faculdade de Arquitetura (FAU) da UnB é responsável pela criação do projeto Arquitetas Invisíveis. Com o objetivo de aumentar o número de referências às arquitetas e acabar com o monopólio masculino, a iniciativa seleciona profissionais que tenham uma relevância mais expressiva na produção e algum diferencial nas áreas de Arquitetura, Urbanismo e Design. A página no Facebook foi criada em 2014 e já conta com mais de 14 mil curtidas.
A ideia surgiu a partir de um questionamento da idealizadora do projeto, Gabriela Farinasso, 25 anos. Já engajada no movimento feminista, ela resolveu trazer para o âmbito da arquitetura a discussão e dar visibilidade as mulheres marginalizadas na profissão. “O que a gente começou a fazer foi uma publicidade para dar reconhecimento para essas mulheres. Fizemos um panorama desde as primeiras mulheres a se formarem até as contemporâneas que estão atuando”, explica.
Gabriela também destaca que a página tenta quebrar paradigmas e tornar a arquitetura mais universal. “Quando você vai fazer um projeto, o cliente muitas vezes pede um quarto afeminado. O que é um quarto afeminado? Um homem não pode ter um quarto afeminado? Uma mulher tem que ter um quarto assim?”, questiona.
Mesmo sendo maioria na faculdade e no corpo docente, as alunas perceberam que havia poucas referências de profissionais em atuação na área dentro das salas de aula. Luiza Coelho, 22 anos, também integrante do grupo, destaca que o nome foi escolhido para mostrar uma realidade comum na área. “Você passa todo dia por uma obra de alguma arquiteta e nem identifica”, destaca.
Já a estudante Hana de Andrade, 24 anos, acredita que as mulheres na sociedade precisam se esforçar ainda mais para conseguir um reconhecimento. “ Mas que isso não é uma coisa ruim também, você vai melhorar seu trabalho da mesma maneira”, comenta.
No início, a página recebia postagens semanais sobre uma profissional. Na ocasião, um pequeno texto com informações gerais como onde estudou, onde se formou era disponibilizado. O projeto cresceu e, ao final de 2014, o grupo já contava de com 12 pessoas interessadas em ajudar. Desse crescimento e da vontade de sair do ambiente virtual, as idealizadoras montaram uma exposição com 26 arquitetas.
A equipe trabalhou para compilar todo o conteúdo e para criar a identidade da mostra. Junto com a iniciativa, o grupo também articulou uma semana de discussões sobre arquitetura de gênero. “Trouxemos professores de SP, da própria UnB, promovemos oficinas para tentar fomentar e esclarecer um pouco mais sobre a questão”, explica Luíza.
A ideia também teve o apoio de docentes da própria universidade, que começaram a apresentar aos alunos, que eram bombardeados com referências masculinas, as arquitetas “invisíveis”. “Um professor que ensina uma matéria para os calouros propôs um trabalho voltado apenas para o trabalho de arquitetas”, destacou.
Segundo Júlia Mazzutti, 20 anos, a pesquisa também revelou uma quantidade impressionante de mulheres fazendo arquitetura, não só no passado. “Temos uma produção de arquitetura contemporânea feminina muito vasta e premiada, mas premiada muito no circuito de prêmios de arquitetura”, explica. Um exemplo é o famoso prêmio internacional de arquitetura Pritzker. Criado 1979 pela Fundação Hyatt, gerida pela família Pritzker, é chamado de “o Nobel da Arquitetura” e é dado aos profissionais que apresentam trabalhos que tenham solidez, beleza e funcionalidade. Em 30 anos de premiação, apenas duas mulheres foram agraciadas com o prêmio. A iraquiana Zaha Hadid, em 2004, e a japonesa Kazuyo Sejima, em 2010.
Júlia destaca que o projeto também serve como um incentivo para estudantes e profissionais da área, que, às vezes, são desmotivadas por essa falta de credibilidade. “Queremos falar que elas podem. Vocês têm capacidades de ir além, de fazer bons projetos”, explica.
A estudante também explicou que o grupo tentou trazer representantes de outras áreas, como as Ciências Sociais, para mostrar que o tema não atinge somente a arquitetura. “Esse assunto atinge todas as profissões. Representantes da psicologia e da comunicação da UnB já mostraram interessaram de levar o projeto para as respectivas áreas.” Além da exposição e da semana de discussões, o grupo foi convidado para produzir uma série de apresentação com 48 arquitetas. Dentre elas, dez brasileiras são citadas.
Para o ano de 2015, o grupo vai lançar um site, além de editais para palestras e colaborações com trabalhos acadêmicos. “Muita gente está interessada e quer ajudar. Essa ajuda é muito importante por que o assunto é pouco discutido”, explica Luíza.
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