Condutores, fios e cabos elétricos têm longevidade limite de 30 anos. Quadro de distribuição e disjuntores suportam, no máximo, 20 anos de atividade. Demais dispositivos, como lâmpadas e periféricos duram de cinco a 10 anos. Essa estimativa técnica da longevidade dos dispositivos instalados em uma residência alerta para algo imprescindível para garantir a segurança dos moradores e do patrimônio: a revisão das instalações elétricas ou retrofit. Segundo o tecnólogo em eletrotécnica Paulo Sérgio Silva Andrade, toda construção com mais de 20 anos deveria passar pelo processo, que nada mais é que uma atualização normativa da instalação elétrica. Mas falta fiscalização e, princialmente, conscientização.
“Muita gente troca o piso, mas não olha pra parte elétrica, exatamente aquela que pode levar a um risco de morte”, critica. Estatísticas da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) revelam que, somente em 2014, 627 pessoas morreram, no Brasil, vítimas de choque elétrico. E esses dados são subestimados. A entidade acredita que a realidade seja até cinco vezes maior. Minas Gerais tem um agravante. Cinco das 10 cidades com maior densidade de raio do Brasil são mineiras, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Existem dispositivos para amenizar o risco de choques fatais e eles estão previstos nas normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para a construção civil. Sua casa tem?
Segundo Andrade, a maioria das construções dos últimos 10 anos estariam dentro da normalidade, mas o ideal é fazer um diagnóstico com um eletricista capacitado, um eletrotécnico ou um engenheiro eletricista. Só eles estão aptos a conferir se a construção tem fio-terra, que garante a operação de outros itensde segurança como o dispositivo de proteção contra surtos de tensão (DPS), uma espécie de “para-raio” do quadro elétrico; dispositivo de corrente diferencial-residual (DR), que evita choques fatais; e disjuntores, que protegem cabos e cargas da instalação elétrica. Esse último é comumente trocado por um de maior capacidade, que permita o funcionamento de um chuveiro mais potente, por exemplo, sem qualquer consulta a especialistas. Um risco.
Se a construção não tiver qualquer um desses itens deve passar por um retrofit. O diagnóstico contempla ainda a análise da fiação. “Na maioria dos casos, é preciso trocar a tubulação, o quadro de distribuição, as tomadas e os interruptores; tudo dentro das normas técnicas atuais que garantem segurança para moradores e para o patrimônio, maior vida útil aos eletroportáteis e um consumo sustentável de energia”, alerta Andrade. E não é um processo barato. Daí a importância de se ter o projeto elétrico da construção, o que facilita essa análise.
A vida contemporânea demanda muito mais das instalações elétricas, que têm uma potência máxima instalada. Construções antigas eram pensadas para suportar o consumo de uma geladeira, uma televisão, um chuveiro – não tão potente como os disponíveis atualmente – e um eletroportátil ou outro. Hoje, eles são mais econômicos. Mesmo assim precisam ter por trás uma instalação elétrica capaz de alimentá-los sem risco de sobrecarga. Segundo a arquiteta e lighting design Daniela Meireles Carvalho, o uso de adaptadores de tomadas, os chamados benjamins, são outro erro. O ideal é ter uma tomada para cada eletroportátil e mesmo aquelas construções com os dispositivos de segurança necessários podem não estar adaptadas. Mas há soluções no mercado, caso da fita elétrica autoadesiva. “Ela passa a energia de um ponto para o outro sem quebrar nada. Se você tem uma só tomada e quer outras, o sistema 'pega' a energia da existente, pluga na fita, que é colada na parede, e passa para a nova tomada”, explica.