Quanto mais perto do fim do ano, maiores as preocupações com os problemas ocasionados pelas chuvas em Belo Horizonte. As enchentes trazem grandes transtornos e aumentam as chances de problemas estruturais nos imóveis e deslizamentos de encostas e por isso é importante que moradores fiquem atentos a alguns sinais para evitar desabamentos. Trincas ou rachaduras na construção significam desde problemas resolvidos com facilidade até transtornos estruturais complexos. E assim como a saúde humana, o ideal é passar por avaliação profissional diante de qualquer mínimo indício de anormalidade.
As causas são inúmeras, mas, em geral, trata-se de excesso de carga, chamado de recalque. “A presença de trincas ou rachaduras em um ângulo de 45° geralmente indica que houve um abatimento do terreno”, explica Clemenceau Chiabi, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia em Minas Gerais (Ibape-MG). Ou movimentações de materiais, dos componentes ou da obra como um todo. “Resumidamente, os principais causadores são os movimentos provocados por variações térmicas e de umidade; atuação de sobrecargas ou concentração de tensões; deformabilidade excessiva de estruturas; retração de produtos à base de ligantes hidráulicos, como cimento; alterações químicas de materiais de construção e má utilização do imóvel”, pontua Daniel Rezende, que é diretor do Ibape-MG.
Fissuras, trincas e rachaduras podem começar a surgir de forma congênita, logo no projeto arquitetônico da construção, e os profissionais ligados à área devem se conscientizar das formas de minimização do problema, o que já começa ao reconhecer que as movimentações dos materiais e componentes das edificações civis são inevitáveis. “Uma forma de evitar as fissuras, trincas e rachaduras é iniciar a construção de uma edificação considerando-se todas as fases da obra de uma forma sistêmica, portanto, aplicando a compatibilidade dos projetos, considerando-se a evolução tecnológica dos materiais de construção, especificando corretamente os materiais, dominando as técnicas de execução, e ainda criando mecanismos e dispositivos que permitam a manutenção futura”, recomenda Rezende.
O local onde aparecem as marcas significa maior ou menor gravidade do problema. Se o alvo das fissuras são elementos estruturais, como vigas e pilares, atenção em dobro, já que são responsáveis por absorver parte das cargas e esforços de uma edificação. O diretor do Ibape-MG explica que se esses elementos estruturais estiverem comprometidos, “toda a estrutura estará mais suscetível à oxidação da armadura, ao deslocamento do concreto e interferência nos materiais que compõem esses elementos, o que reduz a capacidade de absorção de cargas e vida útil do projeto”. Apenas um especialista, como um engenheiro ou a Defesa Civil, será capaz de avaliar o que pode comprometer a estrutura do imóvel.
Falando em deslizamentos, ele observa que sinais como inclinações anormais de árvores, postes ou muros e o aparecimento de água mais barrenta que o comum servem de alerta.
O QUE FAZER? É preciso olho vivo nos chamados “paliteiros”, estruturas que sustentam os prédios. De acordo com Clemenceau Chiabi, é necessário checar se essas construções estão bem conservadas ou não e verificar como está sendo feita a drenagem da água da chuva. Segundo o especialista, o mais indicado é preservar a vegetação das encostas, pois ela ajuda a conter a terra. Mas nem toda planta é indicada para isso. “No caso de árvores de grande porte e a bananeira, há uma retenção grande de água, além do seu próprio peso, que contribuem para o deslizamento do terreno”, ressalta. É importante fazer manutenções periódicas para que nenhum diagnóstico seja feito tardiamente. O correto é que se inicie o processo de manutenção de uma construção a partir da data da sua entrega, aplicando-se o que preconiza a norma brasileira (NBR) 5674:2012, da manutenção de edificações, e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A responsabilidade, em algumas situações, não é apenas do morador. De acordo com o item V do artigo 1.348 do Código Civil, é de competência do síndico “diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar pela prestação dos serviços que interessam aos possuidores”.
Ou seja, é responsabilidade do administrador conservar o condomínio em boas condições de segurança, proteção, salubridade e conforto. “Considerando essa responsabilidade, é importante que o síndico contrate profissionais habilitados e qualificados, como engenheiros e arquitetos, para que eles possam realizar a inspeção predial na edificação, aplicando as manutenções necessárias, respeitando os prazos e propondo a correção dos problemas com base no grau de risco apresentado para criar uma ordem de prioridades de correção”, ressalta Rezende.
* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram