Tecnologia pode ajudar a baratear obras do 'Minha casa, minha vida'
Implementação do BIM no programa a partir de 2022 contribuirá para projetar toda a construção antes de as atividades começarem no canteiro de obras. Espera-se redução de 20% nos custos
Com a implantação do BIM, construtores poderão ter mais rendimento nas obras e atingir maior contingente da população
A equipe econômica do atual governo quer antecipar o uso da tecnologia Building Information Modelling (BIM) (em português, Modelagem da Informação da Construção) para baratear obras do programa Minha casa, minha vida. O BIM é uma tecnologia de modelagem virtual, que integra todas as etapas do projeto, permitindo maior transparência e controle de toda a informação física, financeira e de desempenho do empreendimento em todo o seu ciclo de vida. Com a plataforma, espera-se redução de até 20% nos custos de insumos de um empreendimento.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) está à frente do programa, que estuda tornar obrigatório o uso da ferramenta na construção de casas populares a partir de 2022. Até então, o uso do BIM era previsto apenas para 2028. Essa modelagem permite evitar erros, quantificar os materiais e organizar a chegada dos insumos à medida que avança a construção. Isso vai otimizar o orçamento e o alinhamento entre áreas como fundação, estrutura, instalações hidráulicas e elétricas, assim como a definição e a aquisição de materiais.
De acordo com Bruno Marciano, presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais de Minas Gerais (Abrasip-MG), a iniciativa tem como pressuposto a retomada do grau econômico produzido pelo setor e a digitalização do mercado da construção civil, por se tratar de uma tecnologia que reduz custos e agiliza os processos operacionais. “Hoje, a construção civil é um dos setores menos digitalizados que encontramos no mercado. Entendemos que o BIM vem como uma ferramenta para ajudar na digitalização da construção. Quando falo isso, considero que a indústria automobilística já usa a tecnologia BIM com outro nome, há muitas décadas”, salienta.
O estímulo para a difusão e a promoção do BIM, de acordo com Marciano, contribuirá para uma transformação no modo e na cultura de elaboração de empreendimentos e no desprendimento de modelos antigos ainda usados. “Com todos esses processos automáticos alimentados pelo modelo da plataforma BIM, não por uma planta 2D extraída do Autocad, as construtoras terão condições de executar essas operações automatizadas, com economia de recursos e de tempo”, pondera Bruno.
Evolução
Para Edison Tateishi, diretor de operações da Lafaete, com a tecnologia advinda da metodologia BIM abre-se um campo enorme para a evolução da construção civil, desde a otimização de processos até a criação de produtos mais aderentes aos anseios dos clientes e dos consumidores. “A agilidade com que são feitas as atualizações, modificações e compatibilização de projetos é tão maior nos processos normais que conseguimos chegar em produtos e serviços muito mais próximos aos ideais do ponto de vista de quem decide. Com o BIM, temos mais tempo para visualizar as opções, em vez de perder tempo com a execução do projeto. Ou seja, temos a possibilidade de decidir melhor com mais informações”, comenta.
A tecnologia pode interferir de maneira muito significativa na economia da obra, à medida que as simulações de alternativas são muito mais ágeis e já apontam o custo de tais alternativas. “Por isso, fica evidente que chegaremos muito mais rápido na decisão do melhor custo/benefício dos projetos e que os erros serão minimizados por um melhor detalhamento de compatibilização de projetos”, frisa Edson.
“Em um empreendimento do programa Minha casa, minha vida, em que se tem de 300 a ‘x’ apartamentos, todo o material faz muita diferença. Metros de fios, canos e tubulações podem trazer uma economia gigantesca para a obra”, pondera Bruno Marciano. Os cálculos precisos da quantidade de material necessária para cada etapa e a integração das informações permitem antecipar falhas e problemas no processo, antes mesmo da execução. “Sendo assim, as empresas diminuem a necessidade de aditivos contratuais, que normalmente encarecem e atrasam as obras”, finaliza.
Para o diretor de operações, o BIM vai trazer a agilidade e a transparência que estavam faltando em diversas áreas das empresas, como projeto, orçamento, suprimentos, almoxarifado e até na área comercial. “Essa ferramenta tem potencial para melhorar todas essas áreas e, a partir dela, cada empresa vai ter que se esforçar para alcançar patamares mais altos.” Para ele, grande parte do mercado já está se preparando para trabalhar com a ferramenta. “Inclusive, a partir de 2022, o uso obrigatório do BIM em obras públicas fará com que aquele que não estiver se preparando fique para trás”, finaliza.
DESAFIOS
O presidente da Abrasip ressalta que, para a implementação dessa plataforma, se faz necessária uma mudança real de paradigmas. Não só uma aprendizagem de softwares, mas todo um processo de concepção de projetos, já que o BIM envolve todas as pessoas e disciplinas que fazem com que um empreendimento saia do papel, indo do processo sequencial para o processo de engenharia simultânea. “Principalmente daqueles que estão há mais tempo na profissão e que foram obrigados, em algum momento da carreira, a passar da prancheta para o computador. Além disso, as empresas ainda precisam investir em softwares que gerenciem as diferentes etapas da obra e em equipamentos que devem ser mais potentes do que os usados atualmente, o que significa custos que muitos escritórios não estão dispostos a pagar”,pontua.
“A meu ver, o maior desafio é começar, ou seja, sair da inércia e tomar a decisão de seguir com o projeto de implantação do BIM. Depois, os caminhos surgirão”, finaliza Edison Tateishi, sobre o futuro e os desafios da implementação da plataforma.
* Estagiário sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares
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