Reforma residencial: elemento transformador de espaços e pessoas
Refazer e buscar um novo uso para os ambientes não precisa ser um fardo. Muito antes, é um processo prazeroso. Transformações que influem diretamente na saúde e bem-estar
Trocar os móveis da sala ou do quarto, renovar a cor da parede ou mudar um quadro de posição. Reformar um ambiente é estar no mesmo lugar, mas de forma nova. O espaço renovado sempre carrega um sentido ressignificado. O arquiteto Junior Piacesi diz que o lar deve transmitir paz, aconchego e promover uma experiência de pertencimento. Afinal, a moradia é a terceira pele. "A estrutura da casa é importante para uma vida saudável e tranquila. A decoração pode ajudar na melhora da saúde e reforçar a sensação de bem-estar", afirma. Deixar de lado o que não faz mais sentido, sair daquele "lugar velho" pode parecer distante. Porém, com planejamento, a reforma não precisa ser tão complicada - buscar outros usos é muitas vezes um processo prazeroso.
Reescrever a história de um ambiente residencial passa por pressupostos quanto às formas de usufruto e na esfera estética. É preciso retratar o cotidiano e a identidade de cada um, falar sobre a essência e o estilo de vida de quem o habita. "Após a conclusão do estudo, atenção e cuidado com o custo da obra, escolha correta de materiais e mão de obra qualificada, as mudanças positivas começam a acontecer. Por meio de novas cores e da simples troca de pisos e revestimentos são criados espaços mais amplos, frescos e ventilados", ensina Junior Piacesi.
A decoração, continua o arquiteto, encontra reflexos ainda na consciência corporal. Um projeto bem elaborado, estar em um ambiente que persegue a singularidade do morador, aumenta a autoestima. Iluminação natural e artificial também podem ser aproveitadas com inteligência, o que, além do conforto, influencia na economia de energia.
No percurso da reforma, é comum acontecerem contratempos. Promover transformações internas e externas, continua Junior Piacesi, exige paciência e dedicação. Solucionar problemas estruturais, lidar com fornecedores e parceiros, trabalhar a integração dos ambientes, levar o verde para os projetos, e garantir que tudo seja executado corretamente. "O processo de mudança passa por tudo isso, mas, no resultado final, significa felicidade e ânimo novo, na medida em que impacta positivamente na energia das pessoas e do próprio ambiente", salienta Junior Piacesi. Reformar não precisa ser um fardo. "É uma oportunidade para materializar a obra e deixar a casa da forma idealizada", completa.
Quando a mudança não se dá apenas na decoração, entre todos os imprevistos que podem ocorrer, são problemas minimizados quando tudo parte de um bom planejamento, desde o início do projeto até a supervisão e orientação de profissionais habilitados. Prever todos os detalhes antes de iniciar a intervenção é o primeiro passo. Pormenores que perpassam o tempo estipulado para a obra, pretensão sobre gastos, escolha de mobiliário adequado, a melhor maneira de lidar com vizinhos para minimizar incômodos, entre muitos outros cuidados importantes. É o que ensina a arquiteta Fernanda Ferreira.
Uma forma de ter segurança é contratar um profissional da área que assine pelo projeto. Fernanda Ferreira explica que cada condomínio estipula regras específicas em relação a reformas. Seja nos ambientes de uso comum ou nas unidades privativas, qualquer alteração no imóvel deve ser previamente informada ao síndico. É o que consta em normatização definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). "Quanto ao horário das obras, por exemplo, há variações. Geralmente é em horário comercial, com pausa no intervalo do almoço. Síndicos e zeladores precisam estar cientes sobre esse cronograma. Quando há demanda de demolição, é importante definir como será o bota-fora e, nesse caso, o acompanhamento por um Responsável Técnico (RT de obra) é imprescindível", ensina Fernanda.
No momento do quebra-quebra, uma dica é, antes de descartar os entulhos, quando ainda estão dentro do imóvel, distribuí-los pelos ambientes para não gerar sobrecarga em um único ponto. A mesma atenção deve ser dada às modificações elétricas e hidráulicas, de modo a não comprometer a segurança e evitar infiltrações nos apartamentos vizinhos.
"Costumamos dizer que toda reforma é uma caixinha de surpresas. Imprevistos podem acontecer, principalmente quando o condomínio não tem a documentação completa de todos os projetos do prédio. Perfurações em paredes ou demolições devem ser feitas com o máximo de cuidado para evitar perfuração de tubulações. Caso aconteça, o zelador deve ser imediatamente comunicado para fechar o registro geral até que o reparo seja providenciado", continua.
Em áreas molhadas, como o banheiro e box, outra recomendação é sobre a impermeabilização - tem que ser refeita antes da colocação do novo revestimento. Na parte elétrica, pode surgir a necessidade de redimensionar quadros de luz com inclusão de novos disjuntores. Se a tubulação ou a fiação estiverem comprometidas, a troca é inevitável. "Instalações elétricas subdimensionadas ou mal feitas comprometem toda a segurança da edificação", diz a arquiteta. Em relação à estrutura do imóvel, a alvenaria autoportante (quando há ausência de vigas e pilares) pressupõe limitações na hora da demolição. "O engenheiro deve ser consultado quanto à abertura de vãos", ensina.
Um equívoco recorrente diz respeito à escolha dos móveis, alerta Fernanda Ferreira. "O morador compra um sofá muito grande, por exemplo, que não passa pela porta, não tem como içar pela janela ou, quando chega no ambiente, a peça toma uma proporção absurda. Outro problema comum é quando a posição das tomadas não condiz com a posição dos equipamentos elétricos", descreve.
Há algum tempo, o conceito de lar vem sendo transformado. Com a pandemia, encontrou, nesse sentido, um significado ainda mais ampliado. São ambientes que agora recebem atividades simultâneas, o que não acontecia, com crianças e jovens estudando e pais e mães trabalhando em casa. Para atender demandas de conforto, lazer e funcionalidade, a arquitetura é convocada mais uma vez - a morada deve se adaptar a novas características.
Fernanda Ferreira tem recebido pedidos para projetos de casas em condominios, reformas em apartamentos e coberturas, além de pequenas intervenções e composição de home offices, por exemplo, para criação de estações de estudo nos quartos das crianças e jovens, colocação de armários para manter as cozinhas organizadas, entre outras demandas. "As varandas também tomaram uma importância enorme neste novo contexto. Muitas pessoas gostam de receber nesse espaço, que se torna uma extensão do ambiente de estar", descreve.
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