A ausência de equipamentos urbanos básicos, essenciais para a boa relação das pessoas com as cidades, em um bairro de Londres, levou uma agência local a criar uma proposta inovadora. E que mudou a percepção dos moradores sobre o subúrbio de Cricklewood, onde quase não há bancos nas ruas, praças ou bibliotecas. Um espaço público móvel. O trabalho teve ancorados recursos do município como protótipo de um projeto posterior maior, que vai revitalizar de forma mais abrangente as demais periferias londrinas.
O Cricklewood Town Square é um edifício público em miniatura – uma réplica perfeita que remete à arquitetura característica da região em alvenaria -, transportado por bicicletas. Até setembro, a intervenção apresentada pelos profissionais da Spacemakers percorreu as cinco zonas menos favorecidas do bairro, com índices mais baixos de atividades, e neste mês integrou uma exposição na capital inglesa. A intenção é mostrar como uma simples ação é capaz de transformar completamente um ambiente compartilhado, e como o próprio espaço público pode interferir na vida dos habitantes de uma comunidade e da coletividade como um todo.
Quando a casa sobre rodas está estacionada, surge um parque de 10 m² que inclui bancos, livros, mesas com tabuleiro de xadrez e guarda-sóis, coisas que não são costumeiras para os residentes de Cricklewood. Por onde passou, o modelo também serviu como suporte para uma tela de cinema, gerando uma sala de exibição ao ar livre montada em um estacionamento e em uma calçada.
Um estudo sociológico de autoria de William Whyte, realizado na década de 1980 em Nova York, serviu de suporte teórico para a conceituação da ideia. A linha de pensamento segue a hipótese e conclui que um espaço bem planejado atrai mais atividades, baseando-se no projeto lançado à época no Brooklyn que converteu pequenos lotes vagos em praças públicas e chegou à diminuição da delinqüência.
O autor da praça móvel, Tom James, afirmou que, para um espaço ser considerado público, isto significa que não é preciso pagar para estar nele, e lamenta que cada vez mais as pessoas assistam a uma privatização desenfreada que faz aparecer lugares onde, por exemplo, não se consegue andar de bicicleta ou tirar uma foto sem permissão. “Nos espaços públicos é possível encontrar pessoas não necessariamente conhecidas, mas que são como você”, acrescentou. É onde se tem a oportunidade de exercer não o papel de simples consumidor, mais o real poder de um cidadão.