A designer Kenya Bambirra diz que o nome vintage batiza peças que marcaram uma época
Na hora de pensar em um projeto de decoração, criar uma atmosfera retrô pode ser intenção de muita gente, aproveitando o estilo clássico e requintado dos móveis antigos, que fascina. Restaurar peças e reaproveitar adornos dos pais e até dos avós pode gerar bons resultados visuais, práticos e muito econômicos. A história contada através das ondulações e detalhes característicos do mobiliário, contrastando com as linhas retas e contemporâneas, carrega muitas reminiscências. Nem mesmo o aspecto pesado e, às vezes, austero, tira o toque de romantismo e elegância que os móveis antigos emprestam ao ambiente. Para quem aprecia antigüidades, mas prefere o contemporâneo, a boa notícia é que possível combiná-los perfeitamente.
O termo vintage é de origem inglesa e quer dizer "safra de vinho", em que o prefixo vinté é relativo à safra de uvas e age, idade. Utilizado para designar as melhores safras, os melhores anos de cada vinícola, a palavra acabou por representar "o melhor de sua época". Já o adjetivo retrô é uma maneira mais simples e rápida para substituir 'retrospectiva', que é um design inspirado no passado, podendo inclusive ter influência de várias décadas em mesmo produto, sendo a peça não exclusiva, sem assinatura, concordam a designer de interiores Kenya Bambirra e a arquiteta Virgínia Capanema. "O vintage foi acolhido pelo mundo para batizar peças que marcaram uma época, produzidas nas décadas de 40 a 70. Hoje, produtos que são reproduções ou criações inspiradas na essência deste período, tem esse visual. Se a palavra antiguidade nos remete aos séculos 18 e 19, o vintage se aplica para a produção do século 20. Trocando em miúdos: são objetos que nossos pais e avós possuiam e que agora voltam repaginados para marcar presença em nossas casas", explica Kenya Bambirra.
A tendência atual mostra o retorno do vintage e do retrô, com peças que estão conquistando novamente alguns clientes, adquiridas em leilões e em casas de famílias, e transformando o ambiente, com mais estilo e beleza, continua Kenya. "Pesquisas comprovam que peças que nos remetam à lembranças do passado são sempre bem vindas, pois se traduzem como solidez familiar na nossa memória afetiva. Se a pessoa tiver tido uma grande convivência com o estilo, os móveis de família são a melhor referência e o conforto é certo", pontua. "Estamos acostumados a ouvir frases como 'tudo volta um dia', e o que vemos acontecer na moda, por exemplo, hoje é uma tendência também na arquitetura. Os objetos que nossos pais e avós tinham agora voltam repaginados e ganham destaque. Com isso, os ambientes contemporâneos perdem o ar de showroom de loja para ganhar o calor da memória e a identidade de cada cliente", acrescenta Virgínia Capanema.
Nos ambientes contemporâneos, os móveis antigos ganham releituras e novas utilizações, continua Virgínia. A cadeira de balanço do vovô ganha destaque no estar/TV. A penteadeira e/ou a cristaleira da vovó agora é um bar para a sala de jantar. O baú substitui a mesa de canto no quarto ou numa sala mais despojada. Oratórios criam ar de galeria num belo hall de entrada. As tradicionais cadeiras Luís 15 e os grandes sofás de quatro e cinco lugares vestem novos tecidos para receber os amigos ou a família, exemplifica a arquiteta. "Mas para quem não tem a casa da mamãe ou da vovó pra garimpar, outra opção são os antiquários, quem trazem peças já restauradas e prontas para fazerem parte de qualquer ambiente. Outra opção valiosa são os móveis de velhas fazendas que muitas vezes ficam jogados aos cantos, esquecidos no tempo. Escolher peças contemporâneas de grandes designers que são releituras desses objetos também é uma boa pedida. Estão disponíveis no mercado bons exemplos como a cadeira de balanço RAR (com pés de aço inox e madeira maciça e assento em fibra de vidro e pintura automotiva) dos designers Charles & Ray Eames. Geladeiras, liquidificadores e batedeiras com visual retrô dão uma bossa para a cozinha, somando funcionalidade, modernidade e essa busca por origens", pontua Virgínia Capanema.
Com exceção dos quartos de crianças e jovens, o estilo pode ser utilizado em qualquer local da casa, explica Kenya Bambirra. "Estes móveis tornam-se pares perfeitos para salas amplas e contemporâneas, quando compostos com peças atuais. Adicionando cores vibrantes, os ambientes podem se tornar descontraídos. Misturando a mobília vintage/retrô com as de linha contemporânea, a decoração ganha um sabor especial: sala de jantar com móveis originais dos anos 50/60, lustres, cadeiras, mesa com tampo de vidro e pés de acrílico. A paleta destaca o roxo, o amarelo e o preto, sem medo de ousar. Tapete Bukara, vasos Schneider, cômoda 'heranças de família', arandelas Lalique incrustadas no espelho de linhas simples e modernas. Detalhes florais em madeira nos armários de portas com vidro nouveau; penteadeira deco e cama e mesas desenhadas com linhas suaves formam o elo entre os estilos", conta Kenya.
INSPIRAÇÃO
As peças vintage custam mais caro que as atuais, por que são originais e escassas, e quanto mais raras, mais caras. Já as em reedesign ou reeleitura, podem ser bem mais em conta, pois são fabricadas em série, continua a designer. "O toucador dos quartos femininos pode ser uma reeleitura da penteadeira Poudreuse (Luís 15 - 1750). Por ser prática e decorativa, pois possui a tampa levantada, revela compartimentos para guardar maquiagem e acessórios. O acabamento em laca e as divisões/fundo em vidro ou espelho oferecem leveza e modernidade. A atualização do sofá Luís 15, com a simplificação de linhas, estrutura pintada em prata e estofado em um abusado vinil vermelho, é um redesign. Outra técnica são os acabamentos modernos: pinturas, couro, metalizados, tecidos PVC, com impressões de fotos", completa Kenya.
Na Lider Interiores, a linha de mobiliário destaca detalhes que inspiram essa atmosfera em sofás, buffets, cômodas, pufes, poltronas, mesas e cadeiras, além de uma penteadeira moderna. "Em um mundo altamente tecnológico, onde quase não se tem tempo para nada, usar esse tipo de móvel na decoração é um resgate, traz o sabor da família, com ar saudosista que valoriza e deixa a peça elegante. A composição deve ser pontuada para harmonizar com a parafernália moderna", orienta designer de móveis da empresa, Glauciene Duarte. Na Dominox, os móveis da vovó vêm em pés palito, na linha art-decó para mesas e aparadores, poltronas em madeira torneada, cadeiras em palha austríaca, cadeira de balanço em acrílico, e tecidos florais, adamascados e jacar, explica a sócia proprietária Vivian Scarano. "A mistura com os móveis modernos traz personalização e aconchego", completa.
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