Casa do Baile, da década de 1940, faz parte do belíssimo acervo arquitetônico da Pampulha, que ainda não tem definida política pública de preservação
O conceito de cidade histórica não é mais o único a ser considerado quando se trata de preservação patrimonial, até porque toda cidade tem uma história. Outras referências foram incorporadas para dar suporte ao processo, como amadurecimento e pluralidade. A diversidade cultural passou a ser o foco na proteção do patrimônio. "A partir dos anos 1980, com a criação de leis municipais e estaduais de proteção, especialmente em Belo Horizonte, a nova política de preservação já nasce com a preocupação da pluralidade", esclarece a diretora de patrimônio e cultura da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Michele Arroyo.
A política permite que estudiosos acompanhem vários estilos. A própria característica da capital mineira, com a diversidade de arquitetura e formas de viver que marcam sua cultura, exige ações específicas de inventários e de proteção da arquitetura, desde a moderna até a eclética ou art déco.
Michele enfatiza que, em um processo de tombamento e preservação, o foco transcede o estilo, envolvendo todo o entorno, os aspectos da área e construtivos, de ocupação, além do modo de vida. Ela cita o conjunto urbano da Praça da Liberdade, que, pela centralidade, propiciou edificação eclética - prédios das secretarias de estado e dos palácios da Liberdade e Episcopal -, bem como a moderna - prédio residencial de Oscar Niemeyer e biblioteca pública -, e os contemporâneos, como o Rainha da Sucata.
A diretora de patrimônio destaca mudanças na lógica preservacionista a partir de 1994. As ações passaram a ser mais detalhadas e enfáticas em relação à proteção do patrimônio cultural, indo além do conjunto urbano - o último, segundo Michele, foi a Praça Raul Soares, que teve todo o seu entorno tombado há dois anos.
Paralelamente à ação de proteção há outras, como o conjunto da Pampulha, que incluiu o Mineirão e Mineirinho, incorporados à paisagem nas décadas de 1960 e 1970, ou a reitoria da UFMG e construções e bens como figuras significativas da linha modernista.
A partir dessa nova configuração, bairros inteiros passaram a ser objeto de estudos para preservação, como Cidade Jardim, Zona Sul da capital, e São Luís, na Região da Pampulha, que são contemporâneos na arquitetura e nas formas de ocupação e de viver - tamanho dos lotes, formato das edificações, jardins nos passeios e frontais. "É um projeto modernista. O tratamento do bairro demonstra o sentido de viver".
Há também inventários em projetos mais recentes, tanto institucionais quanto residenciais e de serviços, como os idealizados pelo professor e arquiteto Sylvio de Vasconcellos, levantados com indicações de tombamento. Dois exemplos de conjuntos urbanos tombados dentro dessa nova concepção são os habitacionais IAPB, no Bairro Cidade Jardim, e o IAPI, no São Cristóvão, Região Noroeste. Eles foram os primeiros prédios de ocupação multifamiliar, protótipos do modernismo no fim dos anos 1940. O Edifício JK, emblemático, que coroa o projeto da arquitetura moderna em BH, é o mais representativo do contexto urbano ou arquitetônico. Tudo isso, segundo Michele, não significa que o processo tenha se encerrado, mas demonstra que houve muitos avanços e que não fogem de um olhar mais amplo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação