As coberturas vegetais servem para amenizar os efeitos do aquecimento global, além de brindarem a paisagem das cidades com a beleza e o frescor da natureza
Coberturas e paredes verdes são comuns em países como a Alemanha e trazem várias vantagens à vida nas cidades
O crescimento da densidade demográfica nas grandes cidades fez aumentar, ao longo do tempo, a utilização do concreto na arquitetura, que contribuiu em parte significativa para o aquecimento global. Mesmo em espaços pequenos, uma alternativa conhecida desde os nossos ancestrais começa a aparecer nos centros urbanos como meio de ajudar na melhoria do clima e na preservação do meio ambiente: as coberturas vegetais. Os telhados ainda são partes das edificações muito pouco exploradas num projeto arquitetônico. Além de sua função básica de proteção, eles também podem ser aproveitados como superfície de captação das águas pluviais, mas agora são usados para se plantar gramíneas e/ou outras plantas de pequeno porte. Os ecotelhados ou tetos e terraços verdes, assim como as paredes verdes, começam a se espalhar pelo mundo como soluções que utilizam jardins e gramados em substituição às tradicionais coberturas de telhas, laje, folhas de aço, dentre outras, que geralmente cobrem as edificações. Ainda que em experiências esparsas, os impactos conceituais já saltam aos olhos.
Na Europa, por exemplo, alguns países como Alemanha e Suíça adotaram leis para garantir que ao menos uma parte dos telhados das novas edificações sejam plantados. Outros exemplos também aparecem na Ásia, no Japão, no México, na Bolívia, em Cuba, nos EUA, e começam a chegar ao Brasil, para citar apenas alguns locais. "O primeiro registro que se tem dos tetos verdes na humanidade é nas civilizações antigas da Ásia, especialmente no Norte, em países como Armênia e Rússia, há milhares de anos, onde a habitação típica, muitas vezes em cavernas sob a terra continuava com a cobertura vegetal natural como se fosse o telhado", explica o arquiteto especialista em arquitetura de baixo impacto ambiental, Daniel Quintão. Atualmente, o que acontece é a reapropriação de técnicas de construção primitivas adequadas à realidade tecnológica e infinitas possibilidades técnicas, casadas com as exigências da estética e design contemporâneos, continua Daniel.
Bairro revitalizado em Zurique, Oerlikon, antiga área de galpões industriais da cidade que foi integralmente revitalizada e transformada para comportar residências, sob as quais é possível encontrar os tetos verdes
Ao lado do sócio Frederico Prates, ele presta serviços nesta área pela O3L Arquitetura, aberta depois de uma pós-graduação na escola de arquitetura de Grenoble, na França, em parceria com a Laboratório CRATerre, quando puderam acompanhar a etapa inicial da construção de um galpão de15x55 m em estrutura autônoma de madeira, vedação em fardos de palha e cobertura em teto verde, planejado para sediar as instalações de produção da empresa AKTERRE, especializada em revestimentos de terra (pintura e rebocos texturizados).
O projeto é localizado em uma pequena comuna de Eymeux, departamento da Drôme, na França. "A cobertura curva é constituída por uma primeira camada de pranchas de compensado afixadas sobre os arcos tensionados. Em seguida, uma camada de manta asfáltica (impermeabilizante), outra de argila expandida e, finalmente, a terra vegetal com a grama. Nas extremidades, no sentido longitudinal, foram instalados drenos para captação da água de chuva", explicam, mostrando apenas um exemplo de terraços verdes que aparecem pelo mundo.
Em Minas Gerais, a O3L Arquitetura tem assinados um projeto que inclui terraço verde da Lapinha, região da Serra do Cipó, e outro em fase de aprovação no condomínio Veredas das Gerais, em Nova Lima, na Grande BH. Os arquitetos explicam que, em cidades muito adensadas, os tetos verdes acabam por cumprir a função que antes tinham as superfícies hoje pavimentadas, absorvendo parte das águas das chuvas (um teto verde absorve aproximadamente 70% da água captada, liberando-a aos poucos), evitando enchentes pela saturação das galerias de águas, melhorando a qualidade do ar, reduzindo os níveis de CO2 e de poeira do ar, liberando vapores de água e contribuindo para a redução dos efeitos de ilhas de calor.
O isolamento térmico propiciado pelas camadas vegetais permite um ambiente interno mais agradável e diminui a reflexão e absorção de calor nas coberturas, baixando assim a temperatura emanada do espaço. As coberturas verdes funcionam bem tanto em climas quentes como em climas frios, pois a camada vegetal, além de absorver a radiação, atua como uma manta térmica. "Eles mantêm o calor interno no inverno, e a umidade no verão", continua Daniel Quintão.
Outras vantagens dos tetos verdes são o isolamento acústico, a resistência ao fogo e sua longevidade: eles dificilmente necessitam de manutenção e reparos. Coberturas desse tipo também criam lindos efeitos estéticos e podem contribuir para integrar as edificações com a paisagem em áreas menos exploradas. Mas os arquitetos lembram que, para se fazer um teto verde, há algumas especificidades técnicas que devem ser observadas: a estrutura do telhado (deve se levar em conta o peso do conjunto saturado pela água), a inclinação, a membrana de impermeabilização e anti-raíz, o sistema de drenagem, a espessura e o tipo de substrato, assim como as espécies a serem plantadas. A escolha das espécies em jardins deste tipo deve ser criteriosa: além da preocupação básica em utilizar plantas que tenham raízes não agressivas, as condições de vida são extremamente específicas no que diz respeito à profundidade de solo, umidade, exposição ao sol, ventos.
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