Tão importante quanto receber as chaves do apartamento é ter em mãos o manual do proprietário. Nele constam informações que esclarecem ao morador como o imóvel foi construído e qual a melhor maneira de mantê-lo conservado. As construtoras costumam entregar esse documento no ato da compra, mas nem todo cliente se preocupa em ler.
“Isso é um hábito do consumidor brasileiro. Quando compra um celular, prefere testar todas as teclas antes de ler o manual, o que não é diferente com imóvel. A maioria não dá importância”, lamenta a gerente de relacionamento com o cliente e sustentabilidade da Direcional Engenharia, Juliana Nardy. Para tentar mudar o comportamento de seus clientes, a empresa apresenta o documento na primeira reunião de condomínio do prédio e orienta os compradores a ler, pelo menos, dois itens que ela considera os mais importantes: a tabela de garantia, com o prazo de validade de cada material usado na construção, e as instruções de manutenção, que mostra como o apartamento deve ser cuidado.
A advogada Márcia Araújo Sabino de Freitas sabe bem a falta que faz o documento. Com cerca de 40 anos, o prédio onde ela morava com os pais, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, nunca teve manual do proprietário. “Como o apartamento é antigo, tivemos que fazer várias reformas e quebrar paredes. Tudo foi feito no escuro, pois não conhecíamos a planta do imóvel”, relembra. E quando surgiu um vazamento no banheiro? Foi preciso quebrar a sala inteira para encontrar o cano com defeito. Márcia só descobriu que existia o manual depois que comprou um apartamento novo em São Paulo.
Às voltas com a instalação de armários, a advogada conta que a consulta ao manual do proprietário agilizou todo o processo. Ela levou para a loja uma cópia da planta do imóvel e a empresa só teve que conferir as medidas. “O manual não é o tipo de documento que você joga na gaveta e nunca mais vê. É muito importante saber onde está, pois ele simplifica nossa vida”, opina.
MANUTENÇÃO A despreocupação com a leitura faz com que a Direcional receba com frequência chamados indevidos. Muitas vezes, o cliente danifica a rede hidráulica na hora de instalar uma bancada, porque não viu na planta do apartamento, que faz parte do manual, por onde passa a tubulação. Também é com a solicitação de conserto da esquadria de uma janela, sendo que, na verdade, o morador não se lembrou de dar manutenção, que deve ser feita a cada ano, e o produto perdeu a garantia. Nos dois casos, a construtora não se responsabiliza pelo dano. “Na hora que em que recebe as chaves, o comprador assina um documento confirmando que recebeu todos os esclarecimentos sobre seus direitos e deveres. Se não ler o manual, pode criar prejuízo para si próprio”, alerta Juliana.
A gerente da Direcional Engenharia destaca que o documento também é uma garantia para a construtora. “A empresa tem que ser transparente na hora de entregar o imóvel. Se deu as orientações claras e corretas, tem como se resguardar em relação à cobrança indevida”, diz.
O sócio-diretor da Mobyra Incorporações, Rodrigo Guaracy Costa, observa, ainda, que o documento não exclui a possibilidade de haver algum defeito no apartamento. “O prédio é construído manualmente, e não por processo industrial, então está susceptível a ter falhas. Se cair uma colher de pedreiro no vaso sanitário, por exemplo, ele vai entupir quando começar a ser usado”, afirma. “O que não pode acontecer é a empresa dar as costas e não resolver o problema.”