Nesta construção em Santa Catarina, muitos traços poderiam ser ressaltados em relação às principais características do projeto, mas um destes aspectos acaba sendo mais evidente: a elegância da obra que, explorando a volumetria, salienta materiais crus que dão à casa uma beleza singular. Por fora, concreto e aço corten aparentes conversam entre si, saltando aos olhos e, no lado interno, o tom cinza dos materiais se interliga com a madeira em destaque.
Os volumes ficam ainda mais encorpados com o recuo das esquadrias das janelas, revestidas na cor preta. Avistado da rua, o imóvel, localizado em Joinville, revela um belo visual, mas é por trás que ele surpreende. Na parte posterior, a residência equilibra a volumetria com leveza, conectando-a com um deck de madeira e com a piscina de azulejo de vidro azul.
Segundo os arquitetos do escritório Metroquadrado, Marcos José Deretti, Luis Eduardo S. Thiago e Miguel Cañas Martins, responsáveis pela concepção da morada, a configuração do projeto foi concebida essencialmente de acordo com o desenho do terreno, muito acidentado, e sua insolação, o que gerou a distribuição mais eficiente dos espaços internos e externos na planta. A execução da casa ficou sob a tutela da empresa LHW Engenharia.
A casa é acessada através da parte mais alta, onde está a garagem, em um nível suavemente mais baixo quando se considera a altura da rua. Com isso, toda a área de serviços aparece logo na entrada, voltando os ambientes íntimos, de lazer e convivência, para os fundos do lote, abrindo a visão para uma região onde a natureza é obrigatoriamente preservada, e onde a orientação solar é melhor. Neste sentido, a estrutura é muito discreta para quem olha da rua - poucas aberturas aparecem no jogo de volumes criados para a fachada principal que, além dos revestimentos em concreto aparente rústico e aço corten, recebeu pintura em reboco liso.
Tirando proveito da topografia em desnível, os dormitórios estão meio nível acima da rua, ficando a área social e de lazer meio nível abaixo. Essa decisão permitiu que as salas de jantar, estar e a cozinha se voltassem à face norte em que, integradas, têm uma ligação mais direta com o verde da paisagem circundante, pela direção onde está a piscina. A sala de estar, com pé-direito alto, junta-se à sala de jantar e a um espaço gourmet. Este, por sua vez, fica interligado à cozinha. Nestes ambientes, as esquadrias surgem como grandes planos de vidro, formados por portas de correr que permitem receber grande iluminação e uma vista privilegiada para a área de preservação. Esta especificação forneceu também um caráter fluido na ala comum, onde toda a ventilação é cruzada e constante.
Com pouco mais de 400 m² de área construída, a base da estrutura é alvenaria e concreto e, além deles, poucos materiais compõem a paleta do projeto. Cada volume da casa identifica espaços determinados conforme o uso, e os autores trabalharam muito bem a expressividade dos materiais, com suas propriedades simbólicas, em cada bloco. A garagem, por exemplo, foi mantida em concreto in natura, sem reboco ou pintura. Muito mais que um efeito estético, a opção aparece como uma estratégia estrutural para vencer o vão e conseguir a espessura esbelta que se pretendia.
O mesmo ocorre na sala de estar, onde a proposta é ser um espaço livre de modismos e mais despojado. “Para nós estava claro que neste ambiente não poderia haver gesso ou qualquer outro forro. O teto deveria evidenciar a verdade dos materiais, sendo a própria laje de concreto aparente, fazendo da arquitetura a protagonista do espaço”, enfatizam os arquitetos. Aplicado por razões figurativas, metafóricas e por ser diferente simbolicamente, o aço corten é outro ponto forte. Revestindo o volume que concentra a circulação vertical da residência e representa a conexão entre todos os ambientes, ele assume papel fundamental na proposta. Além disso, com o tempo o aço tende a modificar as tonalidades, o que dará uma dinâmica visual muito interessante à residência.
Com a escolha por acabamentos simples em estado natural, a morada ganhou em elegância. No interior, as cores escuras utilizadas, como o preto, ajudam a transmitir uma sensação mais acolhedora, em contraponto com a frieza do aço e do concreto. Quem assina a decoração é Aneliza Bozzola. Para os responsáveis pela obra, a grande força do projeto é o contraste entre sua discrição no entorno em que está localizado e a surpresa de uma casa totalmente integrada e aberta para a natureza na parte posterior. “De certa forma, a composição formada pelos volumes da fachada, seus materiais simples de revestimento e um paisagismo mais seco, nos remetem aos ares desérticos da arquitetura modernista californiana dos anos 50 e 60. Mas, de forma inesperada, basta entrar na casa para estarmos inseridos numa atmosfera totalmente tropical e contemporânea, com vista para mata brasileira”, finalizam.
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