CONSTRUÇÃO CIVIL

Aumento no custo de materiais de construção pressiona preço dos imóveis

Insegurança no comportamento dos preços dos insumos tende a impactar, também, os programas sociais e o mercado de trabalho para o setor

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postado em 22/03/2021 13:46 / atualizado em 22/03/2021 14:46 Jéssica Mayara*


Pixabay

Apesar do mercado de imóveis aquecido, haja vista a grande procura por espaços maiores e com mais possibilidades de lazer e trabalho, em razão da pandemia de COVID-19, a alta no preço de materiais de construção pode “bagunçar” esse cenário. Isso porque, com insumos apresentando custos elevados, a tendência é que os imóveis também passem a custar mais, reduzindo a venda e, também, os lançamentos das construtoras. 

Os dados ilustram bem isso. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), nos últimos 12 meses – o último mês considerado foi o de fevereiro de 2021 –, o custo com materiais de construção cresceu 26,34%. Os fios de cobre, por exemplo, alcançaram 91,26%. Já o preço do aço aumentou 75%, e o de cimento, 50,79%.  

“O atual cenário de aumento dos custos com materiais é preocupante. Os preços aumentaram muito acima do esperado, alguns, inclusive, sem a menor justificativa. Tivemos aumentos que chegaram a quase 80%”, analisa Geraldo Linhares, presidente do Sinduscon-MG. 

Para além da alta nos preços, o setor também enfrenta problemas de abastecimento. Aço, cabos elétricos, louças, metais, esquadrias de alumínio e tubos de PVC lideram o ranking que exigem maior prazo de entrega. O cimento, por exemplo, que era entregue em até 48 horas, agora, demora cerca de 30 dias. Já o aço e materiais elétricos agora levam entre 60 e 90 dias para serem recebidos. “Dependendo do produto, pode demandar ainda mais, chegando a 150 dias”, explica Geraldo. 

Nesse cenário, a execução de obras fica comprometida, haja vista a forte pressão sobre o custo de vendas e, também, a diminuição da rentabilidade de empresas, o que pode comprometer não só a entrega de obras em andamento, mas também o número de empregos gerados pelo setor. É o que acredita o presidente do Sinduscon-MG. 

“Não temos previsibilidade em relação ao custo das obras e isso está causando uma grande insegurança no setor, apesar do mercado estar aquecido. A tendência é de uma majoração nos preços dos novos empreendimentos, principalmente os produtos econômicos, e uma diminuição dos lançamentos para os próximos meses.” 

Não à toa, ainda de acordo com o levantamento realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais, é esperada alta de 15% nos preços das unidades de padrão econômico a serem lançadas neste ano. Sem esse aumento, as construtoras sequer conseguem executar a obra. O impacto, inclusive, já começa a ser sentido em programas sociais, como o Casa Verde e Amarela. 

“Os produtos econômicos, que são a primeira faixa do Casa Verde Amarela, devem sofrer aumento. Uma propriedade que custava R$ 130 mil vai ser reajustada para cerca de R$ 150 mil. Por mais que possam ser repassados aos clientes, os aumentos sucessivos e inesperados não interessam a nenhuma das partes e podem levar à redução na velocidade de vendas e até a desistência de clientes”, afirma Dionyzio Klaydianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC). 

Esses aumentos substanciais no preço dos materiais de construção, segundo os especialistas, estão culminando em um malefício contínuo para a sociedade como um todo, não só para as construtoras. Isso porque possíveis compradores estão sendo afetados, optando por não investir na aquisição de imóveis no momento, haja vista o aumento dos custos, o que impacta, ainda, no fato de centenas de pessoas precisarem adiar o sonho da casa própria. 

Ainda, a elevação dos preços impactou, e muito, os construtores que fazem vendas antecipadas de imóveis com os preços pré-fixados, por meio de financiamentos, pois a margem é muito pequena e não há reajuste nas parcelas. 

MERCADO DE TRABALHO 


Para além do aumento no preço de imóveis, a alta no custo de materiais de construção pode gerar um impacto considerável no mercado de trabalho do setor, afirma especialistas. “A construção civil foi o setor que mais gerou empregos com carteira assinada no ano passado, mesmo diante da crise causada pela pandemia de COVID-19. Se persistir a alta no custo, esse cenário pode sofrer interferências”, afirma Geraldo Linhares. 
 
Geraldo Linhares, presidente do Sinduscon-MG - Sinduscon-MG/Divulgação Geraldo Linhares, presidente do Sinduscon-MG
 

De acordo com a análise do presidente do Sinduscon-MG, a construção civil foi beneficiada por ter sido considerada atividade essencial pelo governo estadual, mantendo as atividades normalmente. “A manutenção das atividades foi discutida com os sindicatos dos trabalhadores, atendendo ao objetivo de proteger a saúde dos funcionários e manter emprego e renda.” 

“Temos sido vencedores, tivemos poucos casos entre funcionários da construção civil e precisamos continuar no mesmo caminho, seguindo todos os protocolos de segurança. Juntamente com o Serviço Social da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Seconci-MG), também realizamos uma série de ações para reforçar os cuidados de prevenção contra a COVID-19 nos canteiros, como a ‘Construção contra o coronavírus – não vamos baixar a guarda’, lançada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)”, comenta. 

A SOLUÇÃO? 


Para reduzir os impactos, o jeito é agir. E é o que especialistas do setor tem feito. Pelo menos, é o que Dionyzio Klaydianos conta. “Temos buscado minimizar os impactos de aumento e desabastecimento de materiais, por meio da procura por subsídios que justifiquem, junto aos licitantes, o reequilíbrio de contratos e diálogo com fornecedores e governo.” 
 
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Ele destaca, ainda, a parceria com a Cooperativa da Construção Civil (Coopercon Brasil) e demais entidades para estímulo da compra coletiva e importação, que, inclusive, teve uma redução no imposto de 14% para 4%. Isso fez com que o volume importado pelo país no primeiro bimestre deste ano fosse quase 100% superior ao mesmo período do ano passado. 

Em Minas Gerais, o Sinduscon-MG também tem buscado solucionar o transtorno no setor. A entidade protocolou uma representação no Procon-MG contra o sindicato de fabricantes de cimento, e a ação agora está em processo no Ministério Público. O presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares, destaca que a entidade tem atuado fortemente junto à CBIC. 

“Nós não ficamos de mãos atadas. Estamos lutando para conseguir pacificar esses preços. É um trabalho árduo, pois são diversos fatores que estão sendo analisados para que o setor consiga trabalhar, efetivamente produzir e continuar gerando emprego e renda. Temos mantido diálogo constante com o governo federal e já demos algumas sugestões, mas ainda não tivemos uma resposta”, afirma. 

Quanto a ação das empresas, Geraldo Linhares tem uma dica: planejamento. Isso porque é preciso ter muito cuidado para não haver prejuízo e para que o cronograma de obras seja cumprido. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 

Tags: imóveis construção de materiais própria casa sociais programas trabalho de mercado civil engenharia

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