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"Projetos paisagísticos de qualidade não são privilégio dos grandes condomínios. Há soluções menos onerosas para edifícios de padrão mais popular" - Carla Pimentel, paisagista e urbanista
Há tempos o paisagismo deixou de ser um privilégio de apenas uma parcela da sociedade e passou a ser fator fundamental para valorizar qualquer tipo de empreendimento. Atualmente, é visto não só como um elemento de lazer, mas também como uma maneira de ajudar a dar dignidade às moradias econômicas. Com o recente lançamento do programa habitacional do governo federal Minha casa, minha vida, o mercado imobiliário vê um grande potencial nos empreendimentos voltados para consumidores de renda mais baixa.
Para viabilizar o sonho da casa própria, o pacote prevê a construção de um milhão de moradias até 2010, com subsídios de R$ 34 bilhões para famílias com renda de até 10 salários mínimos. O programa brasileiro é o início de um processo semelhante ao que ocorreu no México, que, com incentivos do governo, constrói anualmente mais de 750 mil casas para a população menos favorecida e já reduziu pela metade o déficit habitacional do país.
Entretanto, o maior desafio desse tipo de empreendimento é fazer com que os moradores sintam orgulho de viver lá, segundo o arquiteto e paisagista Benedito Abbud. De acordo com o arquiteto, que assina vários projetos, entre eles o Cingapura - que faz parte do Programa de Verticalização de Favelas (Prover), de São Paulo -, "o projeto paisagístico para as moradias populares pode englobar áreas verdes, espaços de recreação para todas as faixas etárias e ambientes de estar com custo reduzido, oferecendo maior qualidade de vida e melhores condições sociais".
Abbud conta que nos últimos anos o paisagismo adquiriu um novo conceito. "Nós o vemos como uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas, favorecendo a socialização", diz. Para isso, ele tem desenvolvido projetos que levam em consideração o que os moradores querem e precisam. "Não é só um jardim bonito; é um local de uso. É importante que a criança possa brincar, exercitar todas as partes do corpo. Por isso os projetos têm play grouds por faixa etária, lugar para passear com cachorro, áreas para adolescentes, como pista para skate, entre outras", explica.
Para a paisagista, urbanista e gestora ambiental Carla Pimentel, áreas de convívio são fundamentais para o bem-estar de todas as pessoas, independentemente da classe social. "Projetos paisagísticos de qualidade não são privilégio dos grandes condomínios. Há soluções menos onerosas para edifícios de padrão mais popular. O benefício psicológico que essa área trará para os ocupantes do local é imensurável. O paisagismo é, com certeza, responsável pela melhoria da qualidade de vida das pessoas, não importando a dimensão que ele possa ter", ressalta.
Pequenas intervenções em áreas comuns dos prédios, como as próximas à portaria, valorizam os imóveis
A dona da Floricultura Cristal, Carolina Senna, confirma que é possível ter um bonito jardim, mesmo em pequenos espaços, desde que haja planejamento da área. "Uma das alternativas é o jardim vertical (paredes verdes). A outra opção é o uso de plantas esculturais, que ocupam pouco espaço e, mesmo usadas individualmente, dão um charme especial ao jardim. Não importa o tamanho do espaço, mas sim o bom uso que se faz dele", diz.
CONVIVÊNCIA
O arquiteto e paisagista ressalta a importância desses locais para a convivência de crianças e adolescentes. Segundo Abbud, como há um alto índice de mulheres que são chefes de família, passam o dia fora, trabalhando para sustentar os filhos.
Como tudo o que é projetado para a área externa de um empreendimento está relacionado ao paisagismo, Abbud torna realidade o que há pouco tempo era impensável em conjuntos habitacionais de renda mais baixa. "Tenho feito churrasqueiras e quadras esportivas, que podem ser usadas para reuniões de condomínio e comemorações. Com baixo custo, é possível propiciar uma festa entre a família ou amigos. Já as áreas de estar podem ser usadas tanto por adolescentes, quanto por idosos para descansar e relaxar".
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