Apartamentos pequenos, de um ou dois quartos, em prédios que ofereçam cardápio opcional de serviços ainda são minoria em Belo Horizonte e procurados com lupa pela população que busca viver em espaços menores. Apesar de 72% dos moradores da capital acima de 18 anos serem solteiros, formando um mercado em potencial, o número de lançamentos do setor imobiliário para os chamados singles não consegue acompanhar a demanda. Para se ter uma ideia, no ano passado, dos 4.353 apartamentos disponíveis em BH, apenas 1,78% tinham um quarto, ou seja, havia, em 2013, cerca de 80 imóveis com tamanho reduzido à venda. Para especialistas da área, esse potencial poderia facilmente estar próximo aos 7%.
Os dados fazem parte do levantamento inédito da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi) feito no ano passado e que mostrou ainda que, dos 2.933 apartamentos lançados pelas construtoras e incorporadoras em Belo Horizonte em 2013, 113 tinha um quarto (veja arte). “Esse é um problema de BH, é muito difícil encontrar apartamentos de um quarto, assim como casas menores. Não há muita opção. O que vejo é que o mercado imobiliário ainda está mais voltado para famílias, e não para os solteiros”, observa o músico, compositor e produtor musical Flávio Henrique Alves Oliveira, de 46 anos, que está à procura de um imóvel para comprar e morar só.
Flávio faz parte do universo de 247 mil pessoas solteiras na capital mineira. No Brasil, são 8,8 milhões de domicílios com apenas um chefe do lar, crescimento de 17% frente a 2011, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Flávio, a vida de solteiro é cara em muitos sentidos, principalmente, no mercado imobiliário, no qual o metro quadrado (m2) de um apartamento menor é mais oneroso. E ele tem razão. Segundo destaca Lucas Martins, vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), o preço do metro quadrado para os apartamentos de um quarto – entre 30 m2 e 50 m2 – custam, em média, de 10% a 15% mais se comparado ao valor de um apartamento de três quartos, por exemplo. “O mercado está acordando agora para o potencial desse público. O número de lançamentos para atender esse perfil ainda é reduzido”, reconhece Lucas.
“A construção é mais cara porque tem uma incidência forte de alguns itens, como cozinha e banheiros do mesmo tamanho. O aluguel acaba sendo mais caro também”, compara o empresário Teodomiro Diniz Camargo, dono da construtora Diniz Camargo. Ele conta que, ainda em obras, o edifício Excelsior Residence, no Centro, tem apartamentos de 28 m2 a 80 m2, com valores a partir de R$ 230 mil, e muitas unidades já foram compradas. “As moradias menores estão se tornando uma tendência no mercado belo-horizontino. Há muitas pessoas morando sós, assim como casais que não querem ter filhos e idosos que optam por um espaço mais prático”, diz.
VEJA OPORTUNIDADES DE APARTAMENTOS DE UM QUARTO PARA ALUGAR NA CAPITAL
Teodomiro aposta em um crescimento desse segmento imobiliário e diz que os imóveis menores têm fôlego para alcançar 7% dos estoques na capital. E sugere que o interessante é apostar em bairros como Luxemburgo, na Região Centro-Sul, e Ouro Preto, na Pampulha. O diretor do grupo Marfará Martins da Costa (Grupo MMC), Igor Marfará, teve a mesma percepção. Há três anos, quando o grupo lançou um empreendimento no Bairro Ouro Preto com três e dois quartos, em dois dias o segundo tipo foi totalmente vendido. “Percebemos aí que havia uma demanda por apartamentos menores, seja porque esse público está crescendo em BH, seja porque o Bairro Ouro Preto tem o perfil para esse tipo de morador, já que há universidades, grandes empresas e movimentação noturna”, comenta Igor.
LEGISLAÇÃO
Ainda que haja demanda para esse tipo de imóvel na capital, há entraves na legislação para eles. De acordo com Lucas Martins, da Sinduscon, as leis em BH levam as construtoras a investir em imóveis acima de 60 metros quadrados. “Apartamentos maiores são mais viáveis como negócio devido ao potencial de construção estabelecido pela legislação municipal, ” observa. Martins acrescenta que outras capitais brasileiras estão um pouco mais à frente no lançamento para atender a população solteira, estudantes ou mesmo quem vem à cidade trabalhar e quer um imóvel menor.
Segundo ele, os solteiros buscam encontrar no prédio comodidades em serviços, segurança e também espaços como salão de festas, piscina, academia com opção de contratar atividades particulares como personal trainers, fisioterapeutas, entre outros. “Apartamentos com mais de 100 unidades conseguem oferecer vários serviços sem inflacionar o condomínio, já que o valor é dividido entre muitos.”