Urbanismo

BH que não saiu do papel é cheia de curiosidades

Planta da construção de Belo Horizonte, feita por Aarão Reis, não foi cumprida à risca. Prefeitura na Praça Raul Soares, por exemplo, não foi levantada por falta de recurso

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postado em 19/02/2016 12:00 / atualizado em 17/02/2016 21:45 Paulo Henrique Lobato /Estado de Minas

Arte EM
Quando Aarão Reis (1853-1936) concluiu a planta da construção da nova capital de Minas Gerais, Belo Horizonte ganhou status de uma cidade moderna e planejada, com propostas inspiradas em Paris e Washington, antes mesmo de ser inaugurada, em 12 de dezembro de 1897. Mas quem correr os olhos pelo mapa assinado pelo engenheiro e urbanista perceberá que várias propostas não saíram do papel. A BH que não vingou é cheia de curiosidades.

A metrópole erguida sobre a empoeirada área do então arraial Curral del-Rei teve como uma de suas missões o fortalecimento da República, instituída em 1889, em detrimento ao colonialismo na antiga capital, Ouro Preto. Por isso, Aarão Reis pensou em extensas e largas avenidas. E em espaços que valorizassem tanto o paisagismo quanto grandes construções.

Muita coisa não saiu como ele desejou. O prédio da prefeitura foi pensado em frente à Praça Raul Soares, inaugurada como 14 de Setembro, onde deveria existir uma espécie de largo na Avenida Amazonas. O edifício não foi levantado por falta de recurso. Pelo mesmo motivo, uma igreja católica prevista para o outro lado da praça também não foi construída.

Prédio da prefeitura foi pensado em frente à Praça Raul Soares - Rodrigo Clemente/EM/D.A Press Prédio da prefeitura foi pensado em frente à Praça Raul Soares
“Por causa de logística, infraestrutura, orçamento ou prazo, muitos pontos da planta foram improvisados ou mudados. O projeto previa muito mais do que foi construído”, disse Yuri Mesquita, historiador e diretor do Arquivo Público Municipal.

Aarão Reis planejou a maioria das construções e espaços públicos no perímetro interno da 17 de Dezembro, atual Avenida do Contorno. Na esquina com a Afonso Pena, até então o ponto mais alto da nova capital, deveria ser erguida a catedral da cidade. As bases do templo foram feitas, mas as paredes – mais uma vez por falta de verba – jamais ganharam forma. Lá, hoje, é a Praça Milton Campos.

Tamanho atual do Parque Municipal é menos de um quarto do original - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press Tamanho atual do Parque Municipal é menos de um quarto do original
O único símbolo religioso levantado naquela época no local foi um cruzeiro de madeira, o que deu origem ao nome do tradicional bairro da Região Centro-Sul. “A catedral não foi construída por falta de dinheiro. Se você tirar o piso atual, verá que as bases dela ainda estão lá. É uma arqueologia que um dia iremos ter de fazer”, prevê o arquiteto e urbanista Leônidas Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura.

Somente em 2021 – 126 anos depois de a planta elaborada por Aarão Reis ser aprovada – é que BH ganhará sua catedral. A Cristo Rei será inaugurada às margens da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Juliana, na Região Norte. Também é por aquelas bandas da cidade que já funcionou o Hipódromo Serra Verde, de 1964 a 2006, quando deu lugar à Cidade Administrativa, sede do governo de Minas.

Rilton Rocha/Arquivo EM - 03/04/1965

Inaugurado em 1965 e demolido em 2006, Hipódromo Serra Verde seria no Barro Preto - Arquivo EM - 04/04/1965 Inaugurado em 1965 e demolido em 2006, Hipódromo Serra Verde seria no Barro Preto
Já o hipódromo planejado por Aarão Reis seria no Bairro Prado, onde hoje estão a academia, o regimento de cavalaria e outras unidades da Polícia Militar. O quartel, por sua vez, foi previsto para ocupar uma área entre as ruas Alvarenga Peixoto e Gonçalves Dias, em Lourdes, um dos bairros mais nobres da Belo Horizonte do século 21. Atualmente, o terreno abriga prédios residenciais e comerciais.

O mesmo ocorreu com uma extensa área do Parque Municipal, cujo tamanho atual é menos de um quarto do estampado no mapa do engenheiro e urbanista. A principal área verde da cidade começaria na Afonso Pena e terminaria no Bairro Floresta. Há mais curiosidade no mesmo cartão-postal: o Ribeirão Arrudas, hoje um dos mais poluídos de Minas, cortaria o parque.

Busto de Aarão Reis (à dir.) na Praça dos Fundadores, no Parque Municipal de Belo Horizonte - Maria Tereza Correa/EM/D.A Press Busto de Aarão Reis (à dir.) na Praça dos Fundadores, no Parque Municipal de Belo Horizonte
PRAÇAS A proposta do engenheiro-urbanista era valorizar o meio ambiente e o paisagismo. Algumas praças da área central foram substituídas por construções ao longo do tempo. Em frente à portaria principal do Parque Municipal, deveria existir a Praça da República, onde estava previsto a construção do Congresso (Assembleia Legislativa) e do Palácio da Justiça.

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