As sete colunas arquitetônicas de BH

Marco zero da história da capital, capela centenária, anterior à fundação da cidade, é revitalizada no Centro. Outros seis estilos de transição atraem a atenção de arquitetos

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postado em 11/04/2010 09:29 Ernesto Braga /Estado de Minas
Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Aberta pela primeira vez aos fiéis em 26 de setembro de 1897, a Capela Nossa Senhora do Rosário, no cruzamento da Avenida Amazonas com as ruas Tamoios e São Paulo, no Centro de Belo Horizonte, é mais antiga do que a própria cidade, inaugurada em 12 de dezembro do mesmo ano. Abafada por imóveis comerciais, a igreja é uma das raras edificações remanescentes da época em que a capital foi construída aos pés da Serra do Curral. Tombada pelo patrimônio municipal, ela passa por reformas, ganhando nova mão de tinta para realçar suas colunas em estilo eclético. Os pilares simbolizam o marco zero da transformação arquitetônica ocorrida no Centro aos longos dos 112 anos de BH.

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As mudanças na arquitetura da região mais movimentada da capital retratam as etapas do seu desenvolvimento urbano, desde que a cidade foi fundada até ela se consolidar como metrópole. Essa metamorforse é dividida pelo arquiteto Carlos Roberto Noronha, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em sete fases de transição. Seis são simbolizadas por colunas de edificações e a última pela estrutura montada para iluminar o quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, entre a Rua Tamoios e a Praça Sete. "As colunas foram pesquisadas em edificações religiosas, públicas, industriais, residenciais, comerciais e espaços públicos. São elementos gráficos que representam imóveis ainda existentes no Centro, elementos tipológicos referenciais aos diferentes estilos arquitetônicos", destaca Noronha.

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Diversidade de estilos
História em transição

A Capela do Rosário foi projetada pela comissão construtora da nova capital, chefiada por Aarão Reis, para substituir à que foi derrubada no então Largo do Rosário, no arraial de Curral del-Rei. A antiga ficava onde hoje é o cruzamento das ruas da Bahia com Guajajara e foi demolida para a abertura de vias. As colunas da igreja atual, com capacidade para 200 fiéis, emolduram sua única entrada. É elemento recorrente em construções do ecletismo, estilo preponderante nas construções da capital no fim do século 19 e início do 20, explica o presidente do Iepha.

Monsenhor Geraldo dos Reis Calixto, capelão da igreja, lamenta a construção de imóveis rentes à edificação centenária. "Não só a tamparam, como a abafaram. As paredes das lojas são coladas nas da capela, o que provoca infiltrações. O que estamos fazendo não é uma reforma, que pressupõe mudança na arquitetura, mas uma limpeza para retirar essas infiltrações, finalizando com a pintura", diz o religioso.

O próximo passo será substituir as madeiras do teto, danificado por caruncho. A reforma terá de ser feita por especialistas, o que demandará recursos do patrimônio municipal. "Trabalhamos com muita responsabilidade e agimos com consciência por zelar essa edificação, para que a história da cidade continue sendo contada por seus monumentos", afirma monsenhor Geraldo.

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ART DÉCO

Os pilares do Edifício Industrial, construído em 1907 às margens do Viaduto Santa Tereza, fazem parte da segunda fase da arquitetura da cidade. "A segunda tipologia de colunas representa a criatividade dos artífices na composição de elementos decorativos. Mostra , estilizada, uma palmeira tropical", salienta Noronha. Os ícones da terceira fase da transformação do Centro estão no prédio da Prefeitura de Belo Horizonte, inaugurado em 1935 no número 1.212 da Avenida Afonso Pena. "São colunas que representam um novo momento na arquitetura, o art déco, com forte presença nos anos 1930 e 1940. Sua composição é marcada pela base retangular e frisos horizontais em baixo relevo".

Na sequência da linha do tempo da metamorfose arquitetônica do Centro da cidade aparece o Edifício Argélia, erguido na Avenida Augusto de Lima em 1957, com seus cinco pilares na fachada. "É uma composição sem elementos decorativos, revestida com pastilhas em cerâmica, material recorrente na arquitetura modernista", explica o presidente do Iepha. Uma das marcas registradas do gênio Oscar Niemeyer aparece nas colunas dos condomínios Pilar e Alagoas, na esquina de Afonso Pena com as ruas Guajajaras e Alagoas. O prédio, porém, de 1962, foi projetado pelo arquiteto Geraldo Ferreira Lima. "A quinta coluna é elemento estrutural em forma de V, muito utilizado em edificações projetadas nos anos de 1950 por Niemeyer", destaca Noronha.

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O sexto elemento é encontrado no prédio de número 527 da Avenida Amazonas, inaugurado ao lado do Edifício Dantés e onde funciona atualmente uma agência bancária. "É um pilar retangular, recoberto com pedras irregulares. Este revestimento é muito encontrado em construções residenciais de outros períodos e voltou a ser usado nos anos de 1970", diz. Fechando a ordem cronológica das colunas, ele destaca o projeto do arquiteto Gustavo Pena, de 2004, para a requalificação do Centro. "Trata-se de estrutura em aço para iluminação do quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, material muito presente na arquitetura contemporânea".

Mesmo com tantas mudanças, o Centro de Belo Horizonte se mantém como polo de atração e convergência da capital. Tanto que, para os belo-horizontinos, ir ao Centro significa ir à cidade. "Apesar de todas as transformações ocorridas, da perda de edificações e espaços simbólicos, da saturação da infraestrutura urbana, o que popularmente é conhecido como Centro é, ainda, a área de maior diversidade cultural, permitindo uma interação entre os diferentes segmentos sociais", afirma Noronha.
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