URBANISMO

A hora e a vez das cidades caminháveis

Em evidência nos tempos atuais, a caminhabilidade já era defendida nas décadas de 1950 e 1960. Revitalização do Vale do Sereno está em sintonia com o movimento

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postado em 02/12/2022 10:58 Portal Lugar Certo
Gustavo Andrade/Divulgação

Derivado do inglês "walkability", o termo caminhabilidade tem tudo a ver com o lugar onde se mora. Designa a possibilidade de andar a pé com segurança até o comércio, serviços e outras comodidades instaladas a uma curta distância de, em média, 30 minutos ou menos, para ser percorrida. A tendência inverte a lógica que vem pautando o desenvolvimento da maioria das cidades desde o século passado, tirando o protagonismo dos carros, sobretudo nas grandes metrópoles, e colocando os moradores no centro das decisões de planejamento urbano - isso é, as ruas precisam ir para além de apenas corredores projetados para o máximo de veículos.

A caminhabilidade incentiva a construção de ambientes completos e habitáveis, com alta densidade e variedade de usos, modos de transportes e usuários, como define o Planetizen, site de notícias de planejamento urbano e temas relacionados.

Sobre os impactos positivos da caminhabilidade, o desenho de lugares para os pedestres - em detrimento do carros - contribui também para melhorar a experiência das pessoas nos bairros, bem como para reduzir a expansão das cidades, os congestionamentos e as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

O Planetizen destaca, ainda, que espaços diversos e compactos, com quadras pequenas, podem também trazer vantagens para a saúde e a segurança pública, além de fomentar comunidades mais interativas e vibrantes. Nesse sentido, calçadas largas e acessíveis, boa iluminação, bancos, áreas verdes e sombra são elementos que favorecem a caminhabilidade, assim como a limpeza dos locais e a conexão com outros meios de transporte coletivo e ativo, como a bicicleta.

"Toda semana a gente se reunia em uma pedalada para tomar as ruas da cidade, exigindo que o poder público prestasse atenção em nós, deixasse de investir tanto na mobilidade para carros e passasse a priorizar as bicicletas." A fala é de um planejador urbano, que precisou brigar por melhores condições para pedalar em uma cidade que não está nem perto do topo no ranking de piores trânsitos do mundo. Ainda na década de 1960, quando participava dessas manifestações, Jan Gehl, hoje com 86 anos, era um jovem estudante na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes de Copenhague, na Dinamarca. Para ele, sua cidade "passou os últimos 50 anos ficando um pouco melhor todos os dias."

Caminhabilidade no Novo Vale do Sereno

Com maior visibilidade a partir de 1990, com a expansão dos princípios do movimento do Novo Urbanismo, a caminhabilidade já era defendida pela escritora, jornalista e ativista Jane Jacobs, e por outros pensadores das décadas de 1950 e 1960. Defendiam esses especialistas que, para serem vivos, os espaços precisam de pessoas nas vias em distintos horários e de um mix variado de negócios e residências, para atender a públicos de faixas etárias e renda diferentes.

Em sintonia com esse movimento, o Vale do Sereno, em Nova Lima, é o primeiro da Região Metropolitana de Belo Horizonte a pautar uma série de intervenções para tornar o bairro mais caminhável, permitindo que os moradores tenham acesso a tudo o que o precisam com um deslocamento, a pé, de até 15 minutos.

Partindo para a prática, projeto urbanístico em implantação na região prevê a criação de travessas entre as ruas e calçadões com fachadas ativas (com comércio funcionando), na Rua das Acácias e nas quadras centrais, nas proximidades da Igreja Bom Jesus do Vale.

Um circuito de trilhas ecológicas no entorno do bairro será um convite para sair de casa e se exercitar. Dando sequência ao plano de revitalização, o bairro irá abrigar uma espécie de museu a céu aberto, com obras de artistas plásticos espalhadas por vários locais e, entre as presenças já confirmadas, o Instituto Amílcar de Castro.

É esperado que, com um número maior de pessoas circulando, um sistema de vigilância coletiva se forme pelo simples fato de ter mais movimento nas ruas, pois, na prática, ter mais gente nas ruas significa ter mais segurança e maior interação entre os moradores. É o conceito da caminhabilidade associado à noção de uma cidade feita para as pessoas.

Tags: vale do sereno urbanização cidades caminháveis caminhabilidade

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