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Alternativas para saneamento com economia de água e minimização de impactos

Sistemas de sanitários secos podem ser solução para otimizar o consumo deste recurso natural

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postado em 09/06/2010 14:36 / atualizado em 14/04/2015 17:25 Daniel Quintão /Especial para o Lugar Certo , Frederico Prates /Especial para o Lugar Certo
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Água, talvez a substância mais importante e vital para a preservação e manutenção do ser humano na Terra. Entretanto, no decorrer da evolução humana, a preservação de tal recurso natural foi vista como algo secundário, resultando em inúmeras agressões à um bem tão relevante.

O uso consciente da água, bem como planos para a sua preservação, podem fazer parte de projetos arquitetônicos eficazes que, na sua concepção, tragam para a discussão opções que minimizem tanto o consumo, como favoreçam a sua conservação, evitando a sua contaminação e degradação.

Atualmente, os sistemas hidráulicos tradicionais das edificações são pensados de tal maneira que o consumo de água é excessivo, principalmente no que diz respeito ao esgotamento sanitário quando, por exemplo, são adotados válvulas de descarga que geram consumo de pelo menos 15 litros de água por acionamento. Então, considerando uma casa com quatro pessoas, onde cada uma vai ao banheiro cinco vezes ao dia, o consumo seria de 180 litros/ dia, fora a água gasta com banho, cozinha, lavagem de roupas, etc. Por ano, seriam pelo menos 65.700 litros de água tratada gastos apenas com esgotamento sanitário, que ainda podem ter uma destinação inadequada e contaminar as nossas fontes de água limpa.

No entanto, junto com as necessidades do ser humano, e a projeção mundial de escassez do recurso natural em questão, começam a aparecer opções que tornam o consumo mais condizente com o planeta. Hoje já é possível encontrar no mercado bacias sanitárias com caixas acopladas que reduzem o consumo por acionamento para seis litros, e ainda mais, encontram-se também caixas acopladas com câmaras separadas (três e seis litros), onde o usuário escolhe a qual tipo de dejeto (líquido ou sólido) quer dar fim. Isso seria uma das alternativas mais simples possíveis. O consumo de água pode também ser reduzido utilizando sistemas de sucção à vácuo, tal como acontece na recém construída Cidade Administrativa do Estado de Minas Gerais, onde o consumo de água torna-se mínimo (1,2 litros por acionamento), mas ainda apresenta custo de instalação alto, sendo inviável a edificações de pequeno porte.

Vale lembrar que o uso da água no esgotamento sanitário possibilita, com maior facilidade, a contaminação de cursos d'água e lençóis freáticos, caso a destinação não seja correta, fato recorrente na maior parte do país e até mesmo do mundo.

Um sistema de saneamento sem a utilização da água

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Obviamente, temos opções de saneamento e esgotamento sanitário que utilizam água de maneira ambientalmente eficiente, tais como as conhecidas ETEs (estação de tratamento de esgoto), fossas sépticas e sistemas variados de reciclagem e reaproveitamento das águas servidas, mas cabe aqui uma reflexão acerca de um sistema de saneamento que não utiliza a água no seu processo. Este sistema é conhecido como câmara de compostagem, ou simplesmente banheiro secoi, caracterizando um processo natural de decomposição dos dejetos humanos que, após certo tempo, converte-se em composto orgânico que funciona como adubo para jardins ou pomares.

A câmara de compostagem/banheiro seco substitui de maneira muito eficaz e funcional o tradicional sistema hidráulico de saneamento a qual estamos habituados. Para tal, além dos preconceitos implícitos à técnica (mau cheiro e eficiência), temos de nos desprender de certos hábitos comportamentais e promover uma mudança conceitual na destinação final dos nossos dejetos. O sanitário seco é constituído por uma câmara fechada, normalmente localizada abaixo do piso do banheiro, para onde são destinados os dejetos humanos, que podem ser misturados aos restos orgânicos da cozinha (restos de comida, casca de frutas e vegetais, etc) onde, naturalmente, ocorre a formação de uma colônia de bactérias que faz a digestão da matéria orgânica depositada ali.

Existem várias técnicas e opções para a construção da câmara de compostagem, o que vai depender do local e da mão de obra disponível. Existem opções pré-fabricadas em fibra de vidro, alternativas de moldar o mesmo in loco com concreto e tela de galinheiro, e até mesmo com reaproveitamento de tonéis metálicos ou plásticos.

Os sanitários secos exigem algumas características básicas que devem ser observadas no processo de construção e uso. O receptáculo de dejetos deve ser estanque, de modo a evitar a contaminação do solo e, por conseqüência, os lençóis freáticos. Também deve possuir um tubo de ventilação, normalmente pintado de preto e na altura dos ventos, que faz a sucção do ar aquecido e, assim, a eliminação de qualquer mau cheiro. A cada utilização do sanitário seco, é importante recobrir os excrementos com folhas secas ou serragem, ajudando na formação da massa a ser compostada, absorção dos líquidos, e as tampas devem ser sempre vedadas, evitando a entrada de insetos. O processo de compostagem pode durar de seis meses a um ano, quando enfim é retirado o adubo orgânico em forma de terra preta, que pode ser levado a um minhocário para transformação final e húmus, ou até mesmo ser lançado em pomares, jardins, etc.

O mais importante deste sistema, além de fechar um ciclo de consumo e destinação totalmente sustentável aos dejetos humanos, problema grave para nosso meio ambiente, é a economia e o uso racional da água, que torna-se um diferencial considerável neste processo. Caso aquela família de quatro pessoas, citada inicialmente, adote um sistema de saneamento baseado na compostagem, haveria, pelo menos, a economia anual de 65.700 litros de água tratada e potável que seriam perdidas esgoto abaixo. Isso sem contar que esta mesma família poderia fornecer uma quantidade de adubo considerável ao jardim da casa onde reside.

*A O3L Arquitetura é uma empresa que atua área da construção contemporânea de baixo impacto ambiental e do patrimônio cultural, sediada na cidade de Belo Horizonte/ MG. Daniel Quintão especializou-se em Arquitetura de Terra - técnicas vernáculas, pela Ecole Nationale Supérieure d'Architecture de Grenoble e Laboratório CRATerre, França. Participou do desenvolvimento de projetos e obras de construções em terra junto à empresa francesa AKTerre - Construction et Matériaux en terre, instalada na região de Grenoble, Ródano - Alpes, além de elaborar inventários de bens culturais no âmbito do programa do ICMS Cultural no estado de Minas Gerais. Frederico Prates especializou-se em História da Cultura e da Arte pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Desenvolve trabalhos na área da restauração e intervenção em bens culturais e possui ampla experiência nos trabalhos do ICMS Cultural junto a vários municípios mineiros

O3L Arquitetura: Rua Congonhas, 798/sl. 4 - Santo Antônio - Belo Horizonte-MG. (31) 2531 7070/(31) 9196 6935/(31) 9625 7382. Emails para esta coluna: o3l@o3l.com.br

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