Programa do governo federal facilitou o acesso dos brasileiros à moradia própria, mas desafio das empresas é entender que tipo de imóvel essa faixa da população deseja
A Probase Construtora dá prioridade à comercialização de empreendimentos prontos em pequenos condomínios
Nos últimos dois anos, o aumento da oferta de linhas de crédito e uma relativa estabilidade do nível de emprego têm permitido que um número cada vez maior de brasileiros tenha acesso à casa própria. Com o lançamento, em março, pelo governo federal, do programa Minha casa, minha vida, que, entre outras medidas, aumentou subsídios e reduziu juros de financiamentos ofertados pela Caixa Econômica Federal, o mercado imobiliário direciona seu foco à população de baixa renda, que agora tem a chance de concretizar o sonho da moradia própria.
Para o consultor Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, instituto especializado na realização de pesquisas no mercado de baixa renda, a maior demanda habitacional está mesmo na base da pirâmide social brasileira e, com as condições favoráveis de crédito oferecidas hoje, são a classe C e a população de baixa renda que predominarão no mercado consumidor de imóveis daqui para a frente. "A proporção de pessoas com imóvel próprio é menor nas classes C, D e E, mas, em contrapartida, vê-se que esse público da base é muito mais jovem que os da classe A e B. Sendo assim, o número potencial de famílias é maior e a demanda pelo perfil de imóvel que supra as necessidades desse público é o que mandará no mercado imobiliário nos próximos anos", afirma.
Mas para atender bem a esse consumidor, que já movimenta anualmente cerca de R$ 620 bilhões na economia brasileira, é preciso compreender como se dá o seu o processo de compra, que difere, em muito, dos hábitos de consumo das classes A e B, alerta o consultor. "No Brasil, temos uma característica importante nas famílias da base da pirâmide: quanto menor a renda, mais gente mora na mesma casa e isso, por si, já distingue muito bem o mercado imobiliário das classes C, D e E dos consumidores do topo da pirâmide", avalia.
Renato Meirelles avalia que, para dialogar com esse público e manter, assim, uma atuação regular no mercado, as construtoras e imobiliárias devem estar preparadas para atender exigências específicas. O consumidor de baixa renda, segundo ele, tem mais medo de não receber o imóvel, pela importância que atribui à aplicação de um dinheiro que foi sacrificante conseguir. A ligação com o bairro também é outro fator que deve ser levado em conta, pois geralmente na vizinhança esse público concentra parentes e familiares e evita se afastar quando quer comprar ou alugar uma casa.
A compra do imóvel pela base da pirâmide, segundo pesquisas conduzidas por Meirelles, é norteada principalmente pelo medo de não conseguir pagar o imóvel ou atrasar as parcelas, enquanto as classes A e B se preocupam mais com exclusividade e segurança. "É preciso ter um cuidado grande na hora de vender para esse público de baixa renda. Deixá-lo seguro e ser honesto ao propor o negócio é o mais importante para ter sucesso", conclui o especialista.
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