Mírian Barsanti não tem acesso à cozinha nem à garagem pela área interna
Em fevereiro de 1997, a nadadora e estudante Mírian Barsanti, então com 31 anos, sofreu um acidente durante viagem de ônibus a São Paulo. "O motorista cochilou e bateu de frente com uma carreta de minério. Fiquei presa nas ferragens. Fui resgatada com traumatismo craniano leve, fraturas múltiplas - na coluna, pernas, escápula e costelas, lesão no baço, que foi retirado, e no fígado. Passei 15 dias em coma, um ano internada em três hospitais, um de Pouso Alegre e dois em Belo Horizonte, fiz cinco cirurgias, mas o diagnóstico foi de paraplegia e estou presa a uma cadeira de rodas", relembra Mírian, que, apesar das limitações impostas pelo acidente, formou-se em administração de empresas e manteve a vida de atleta: é hoje nadadora do circuito brasileiro paraolímpico.
Ter a rotina transformada de maneira tão radical e repentina não é para ela o sofrimento maior. "O pior é ser dependente. Não ter a liberdade e a autonomia que tinha antes. É precisar contar com a ajuda dos outros para me locomover, problema que poderia ser minimizado, caso morasse em uma cidade com mais acessibilidade e tivesse uma casa mais adaptada à minha condição", afirma. Ela conta que, depois do acidente, e antes de retornar para casa, os pais, sem orientação especializada, fizeram algumas mudanças no apartamento onde moram.
"Como nosso apartamento é no primeiro andar, só foi necessário tirar degraus em dois pontos da entrada do prédio e substítuí-los por rampas e instalar corrimão. No apartamento, a adaptação consistiu apenas no alargamento dos portais da sala e do banheiro. Mas as modificações não me garantem autonomia. Não tenho acesso à cozinha e área de serviço, nem à garagem pela área interna do prédio. Pelo formato do banheiro também preciso de ajuda para conseguir entrar, de ré, com a cadeira de banho no boxe. Enfim, há uma série de limitações que fui levando no dia a dia, mas, agora, como meu pai, já idoso, tornou-se doente renal crônico e também teve sua mobilidade reduzida, decidimos mudar para um apartamento que nos dê mais autonomia. Mas está muito difícil encontrar um imóvel adequado. Os principais problemas dos apartamentos, mesmo os novos, são a largura das portas internas, em média, de 60cm, o que impede a passagem da cadeira de rodas, e o tamanho dos banheiros", reclama.
Fazer adaptações no novo apartamento, diz Mírian, seria uma solução. "Mas o custo é proibitivo. As adaptações mínimas, feitas por reforma e instalação de equipamentos básicos, não ficam por menos de R$ 100 mil e nós, cidadãos com problemas de locomoção, não temos nenhuma ajuda ou incentivo do governo, como a isenção de impostos na compra de equipamentos de adaptação - só há esse benefício na compra de carros - ou linhas de crédito especiais de financiamento para compra ou adaptação do imóvel. A sociedade precisa se conscientizar de que a mobilidade reduzida não é problema só do deficiente, é também do idoso, das crianças, das grávidas e de pessoas que sofrem dificuldades temporárias de locomoção. É um problema coletivo e precisamos nos unir e cobrar das autoridades a implementação de políticas públicas mais abrangentes e eficientes que garantam nossa qualidade de vida", desabafa.
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